O Tupi Pop

A corrente artística de Luiz Pagano - Tupi Pop - busca ir além das aparências superficiais e trazer à tona a essência de nossa diversidade cultural e étnica, já levou às ruas de Curitiba o evento Capivara Parade, mostrando a importância das boas relações entre os centros urbanos e a natureza, e gerando recursos para a campanha do agasalho local; o Projeto Tembiu trouxe mais de 120 insumos da floresta Amazônica para a comunidade de Coquetelaria no ano de 2014, ao Lado dos Chefes Tiago e Felipe Castanho; e por meio do Dia do Anhangá, trás agora a ambiciosa proposta de integrar todas as etnias e culturas pertencentes ao vasto território brasileiro. “A data de 17 de julho foi muito bem escolhida não só pela associação com a proteção da natureza, más também com a proximidade da data de um outro evento de amor e paz ente europeus e brasileiros – 30 de julho 1524 data do casamento de Diogo Álvares Correa Caramuru e Paraguaçu na lendária Catedral de de Saint Malo. Eu, brasileiro da Aldeia do Inhapuambuçu, que ainda moro próximo ao triangulo histórico, neto de Zuzu Correa de Moraes que nasceu no casarão da Rua da Gloria N.º4, onde hoje fica o respiro do metrô Liberdade, no coração do Inhapuambuçú, propnho um suspiro de liberdade, amor e união. É imprescindível ressaltar que a união e aproximação das diferenças não significa ignorar ou minimizar o sofrimento vivido pelos povos indígenas diante do colonizador, que cometeu crimes como genocídio, tortura e obliteração da cultura originária por meio da catequese, entre vários outros crimes indizíveis. A idéia aqui é o início de um diálogo respeitoso e inclusivo, em que suas vozes sejam ouvidas e suas demandas atendidas. Ao organizar seu evento indígena em São Paulo, o que mais levei em consideração foi a importância de criar um espaço seguro e acolhedor para que os povos indígenas possam compartilhar suas histórias, expressar suas culturas e se fortalecerem enquanto comunidades. Somente através do reconhecimento de suas lutas passadas e presentes, poderemos construir uma sociedade mais justa e equitativa para todos. Foi no triásico que o Inhapuambuçú fez unir das vertentes os rios Tamanduateí e Anhangabaú, foi a quase 500 anos o Inhapuambuçú fez unir João Ramalho e Potyra e será aqui, no Inhapaumbuçú que os povos brasileiros aprenderão a se respeitar e a viver em paz e harmonia. Devo dizer ainda que me orgulho do sobrenome Correa de minha família, a mera possibilidade de ser descendente de Caramuru e Paraguaçu me enchem de orgulho”. Luiz Pagano – Outubro de 2019

sábado, 17 de outubro de 2020

O Calendário da Tartaruga de 364 dias - Astronomia Ancestral Tupi

 

Ilustração Tupi-Pop do Calendário na carapaça da tartaruga marinha por Kunumi Kûatiasara


Os Tupinambá, Tupiniquim e outras etnias das Américas tinham grande conhecimento de astronomia, a observação de corpos celestes associadas às estações do ano, bem como lendas cosmológicas, era expediente corrente entre esses povos, é possível que compartilhassem conhecimento e discordassem das teorias uns dos outros, o assunto era o mais comum entre os povos da America do Sul, dos Andes e de povos antigos do atual México, levados a cabo pelos rápidos viajantes das trilhas, dentre as quais a mais importante, a do Peabirú. 

Uma das teorias mais ouvidas entre nossas muitas etnias diz respeito ao fato de o ciclo anual de 364 dias estar gravado nas carapaças das tartaruga marinhas da família Cheloniidae, diz a lenda que Jerônimo de Albuquerque Maranhão, bravo guerreiro, responsável pela expulsão dos franceses, filho do nobre português Jerônimo de Albuquerque e da linda princesa indígena pernambucana Muyrã Ubi, filha do cacique Uirá Ubi, (Arco Verde, em português), da aldeia Tindara, batizada em língua portuguesa com o nome de Maria do Espírito Santo Arcoverde, ao chegar em Pé do Serrote fez erguer uma pequena fortaleza, com estacas de madeira para protegerem-se do terrível pirata francês Du Prat, no ano de 1614 de nosso Sr., na companhia dos Tremembé.


Como era profundo conhecedor do idioma Tupi, aproximou-se de uma jovem que brincava com uma tartaruga marinha e percebeu que ela constantemente repetia um verso: 

“kwara'sï - Irundyk po xe pó mosapyr - quatro mãos com minha mão e mais três = 28 (vinte e oito sois), Îasy - Mokõî pó mosapyr – duas mãos e mais três = 13 (treze luas)”;

13 luas e 28 dias, o que seria isso?

Ao perguntar ao pai da garota, esse responde que em todas as carapaças de tartaruga esses números equivalem aos 364 dias que compõem o ano indígena.

Todos os povos indígenas conheciam a sabedoria da tartaruga e seguiram um calendário de 13 meses; afinal, existem 13 ciclos lunares num ano e 27 a 29 dias por ciclo.

Ao comparar com o calendário gregoriano, instituído em 1582, fez parecer que o homem branco tivesse subtraído um mês para cortar a conexão entre as pessoas com o sol e a lua."

O velho índio perguntou então a Jerônimo:

O ano de 364 dias está representado na carapaça da tartaruga marinha

O-î-kuab-ype nde r-a'yra îurukaûá asé r-ekomonhangaba? 

Teu filho desconhece os mandamentos da tartaruga feito a nós?

Envergonhado, ele mente ao velho índio: 

- Pá. O-î-kuab.

Sim, ele os conhece.

Ta nde ma'enduar Tupã asé r-ekomonhangaba r-esé.

Que ele se lembre dos mandamentos da tartaruga feito a nós.

Jerônimo, encantado com a descoberta do calendário no casco das tartarugas, não só fez seus filhos e netos conhecerem o calendário da tartaruga, como também resolveu dar nome ao lugar de ‘Jericoacoara’, do Tupi-Antigo îurukaûá tartaruga-marinha / kûara – toca = Toca das tartarugas.

Os índios Xerente, segundo Levi-Strauss (1964), contam os meses do ano através de lunações, ou seja,através das transições da Lua entre nova, crescente, cheia e minguante, além disto, os Xerentes consideram como o inicio de um ano novo, quando ocorre o aparecimento das Plêiades e o Sol distancia-se da constelação ocidental de Touro, ocorrendo no mês de junho se analisado no calendário ocidental. Um outro importante fator causado pelas Plêiades, diz respeito ao aviso de possíveis ventos, porém, isto ocorre, apenas quando são avistadas no amanhecer. A observação em relação ao nascer da Sururu (Plêiades), para os Xerentes, pode ocorrer de duas formas distintas, às quais eles nomeiam como “nascer helíaco” e “nascer cósmico”, no primeiro o nascer dessa constelação se dá antes do nascer do Sol, no segundo, nascer cósmico, elas nascem em conjunto ao nascer do Sol, dentro deste período de diferença na forma de nascer das Plêiades, contam-se treze luas, ou seja, por treze vezes se cumpriu as quatro fazes da Lua.

Segundo D’Abbevile (1614), para os índios Tupinambá, as Plêiades eram muito comuns, agindo como base de informação meteorológica e cultural, eles a denominavam Seichu, na região da ilha do Maranhão, onde ocorreram as pesquisas empíricas de DAbbevile. As Plêiades aparecem em meados do mês de janeiro, quando os Tupinambá começavam a esperar o período das chuvas. Os Tupinambá da costa nordestina, segundo LeviStrauss (1964), associavam as Plêiades a uma constelação, que denominavam Seichujura, ou seja, colmeia de abelha, o aparecimento desta constelação, para eles, também funcionava como indicadora das chuvas.

As fases da lua

A Lua, satélite natural da terra, a partir de suas fases, serve como referência ao cotidiano dos índios, sendo utilizada como orientação para seu calendário, assim como influencia na contagem das horas e na orientação geográfica. Outra influência muito importante da Lua no cotidiano, diz respeito à agricultura, à caça e à pesca dos povos indígenas, sabendo qual o melhor período para colher frutos, plantar, pescar certas espécies de peixes e quando ocorre a época mais farta para a caça, assim como para o corte da madeira.

Esta influência, segundo D’Abbeville (1614), é também responsável pela vida marinha, sendo conhecida por quase todos os membros da cultura Tubinambá, onde as fases da Lua modificam o ritmo das marés. O conhecimento das fases lunares foi a herança do conhecimento, deixada pelos antepassados indígenas, sendo por este motivo que, cada cultura, tem seus ritos e sua forma de lidar com as fases lunares, levando-os muito a sério. Desta forma, se dá a organização do calendário dos índios Xerentes:

Eles dividem o ano em duas partes: 

1º) quatro luas de estação seca, aproximadamente de junho a setembro; 

2º) nove luas de chuva (a-ké-nan) de setembro a maio. Durante os dois primeiros meses da estação seca, eles limpam um pedaço de floresta derrubando as árvores maiores. 

Durante os dois meses seguintes, queimam o mato e semeiam, para aproveitar as chuvas do fim de setembro e de outubro (J. F. DE OLIVEIRA, 1912 P.393-94 apud LEVISTRAUSS, 1964 P.252).

Segundo RODRIGUES (1998), a Lua nova exerce influência direta no transporte natural de seiva nos vegetais, que se manifesta em maior quantidade no caule, direcionando-se em seguida aos ramos, o que favorece o crescimento e desenvolvimento das plantas, principalmente no aproveitamento das folhas, como as hortaliças, que são colhidas pelos indígenas, preferencialmente, no período desta fase lunar. Durante esta fase da Lua nova, torna-se atrativo o plantio de árvores, cujo objetivo é a produção de madeira. Para a colheita dos frutos, o melhor momento da Lua, é quando ela está cheia, pois os frutos estão mais macios e suculentos, devido a maior quantidade de seiva no interior dos mesmos. Na Lua minguante, as plantas absorvem menos seiva, por este motivo, o caule, as folhas e os ramos se tornam mais secos, sendo nesta fase, recomendada a colheita do bambu e das madeiras para construções, devido a maior durabilidade e resistência desses em relação à parasitas.

Outro fenômeno natural, que é explicado e relacionado, através dos mitos e saberes indígenas, com as influencias lunares, é a onda pororoca, que por sua vez, é protagonista em um dos mitos mais contados pelos indígenas. Porém, a pororoca explica-se, através das mudanças nos mares, a partir de duas fases lunares, assim como exemplifica Murgel:

Tal onda é causada pela elevação súbita da maré no oceano, em tempos de sizígia (isto é, nas grandes marés causadas pela conjunção ou oposição da lua com o sol, ou seja, marés de “lua nova” e “lua cheia”). A elevação da maré represa os rios no estuário, fazendo com que suas águas recuem, formando uma grande corrente em sentido contrário ao seu curso normal. Havendo um estreitamento no rio, o nível da água se eleva muito repentinamente e, se houver alguma saliência no leito (os freqüentes baixios formados pela deposição de sedimentos), esse obstáculo faz a água amontoar-se bruscamente, originando a onda que subindo sempre termina por rebentar fragorosamente, como pode ser observado no Guamá, o grande rio que circula Belém (MURGEL, 1930, p. 59).

A partir das práticas cotidianas de observação da Lua, os índios Tupi-Guarani, notavam modificações no comportamento dos animais, de acordo com a luminosidade apresentada no ambiente, quanto mais brilhante estivesse a Lua, mais agitados ficavam os animais, fator este que, proporcionava melhores condições para caçar.

Essa agitação animal ocorre entre os períodos de Lua nova e de Lua cheia. Outro fator importante, demonstrado pelos índios Guaranis, sendo um conhecimento que pode ser aproveitado no combate as pragas, como exemplo, o mosquito da dengue (Aedes Aegypti), se dá, devido a sabedoria de que a melhor época para combate-los é durante a Lua cheia, já que, os insetos ficam mais agitados por razão da maior luminosidade. A incidência do mosquito da dengue (Aedes Aegypti), também aumenta durante o período de Lua cheia, sendo este o motivo de a dedetização ser mais eficaz neste período (AFONSO, 2014).

As aldeias litorâneas Guarani, da mesma forma como os Tupinambá, relacionam as fases da Lua diretamente com as estações do ano e com as marés. De acordo com os índios, a melhor fase para pescar o camarão é entre os meses de Fevereiro e Abril, quando o nível das marés está elevado, ocorrendo durante o período da Lua cheia. Normalmente ao sair para pescarem, os índios já sabem quais espécies de peixes vão conseguir pegar em abundância, isso acontece, porque os índios conhecem muito bem as fases da Lua e a época do ano certa para a pesca, alem de ter um conhecimento muito grande sobre a fauna do meio-ambiente onde vivem, já que são exímios observadores da natureza (AFONSO, 2006). 

Segundo D’Abbdevile os índios Tupinambá distinguiam dois momentos das cheias das marés, que aconteciam sempre na Lua nova e na Lua cheia. O conhecimento das marés, pelos índios, se dá anteriormente ao desenvolvimento deste conhecimento pelos europeus, uma das explicações que podem ser dadas para este fato, diz respeito a localização do território brasileiro, que está em quase toda sua extensão, entre os trópicos, onde, por sua vez, a observação e a relação das marés com as fases lunares é mais facilmente realizada. (AFONSO, 2006).

A cultura indígena, de forma geral, baseia suas crenças e explicações dos fenômenos naturais, a partir dos mitos, contados e recontados por seus antepassados, desta forma, para as explicações das características da Lua, assim como das fases lunares, não acontece diferente. Os índios Tupi-Guarani, através de suas observações da Lua e dos efeitos naturais que ocorriam ao fim de suas fases, criaram um mito, para descrever e explicar o porque, das características físicas da Lua e suas influências, fazendo isto, a partir de suas crenças nos astros como deuses.

LUA, IRMÃO DO SOL, entrava tateando no escuro, no quarto da irmã de seu pai, com a intenção de fazer amor com ela. Para saber quem a importunava todas as noites, sua tia lambuzou os dedos com resina e de noite, enquanto Lua a procurava, passou a mão em sua face. No dia seguinte, bem cedo, Lua foi lavar a face para retirar a resina. No entanto, a substância não saiu, e ele ficou mais sujo ainda. Por esse motivo, Lua tem sempre a face manchada. Desde então, a lua nova lava seu rosto, fazendo chover para tentar tirar as manchas de resina, que ficam mais visíveis quando ela se torna cheia. Essa fábula ensina aosTupis-Guarani que não devem cometer incesto. (AFONSO, 2006 p.52).

Para muitas nações indígenas, a chegada do ano novo era durante o solstício de inverno (~21 de junho), tal como o wiñol Tripanto ou We Tripanto dos Mapuche do Chile ou os habitantes da aldeia Pokanoket, da nação indígena norte americana Wampanoag, que também via o ano de 28 dias e 13 luas nas costas da tartaruga, de acordo com o livro  "Thirteen Moons on Turtle's Back de Joseph Bruchac.

Constelações Tupinambá 

Agora que já sabe como a maioria das nações indígenas dividiam o ano no calendário da tartaruga, conheça também algumas constelações indígenas ancestrais. 

Dois anos antes de Jeronimo chegar em Jericoacoara, no ano de 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville passou quatro meses com os Tupinambá do Maranhão, perto da Linha do Equador. No seu livro “Histoire de la Mission de Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisins”, publicado em Paris, em 1614, considerado uma das mais importantes fontes da etnografia dos Tupi, ele registrou o nome de cerca de 30 estrelas (îasytatá em Tupi-Antigo) e constelações conhecidas pelos índios da ilha. Infelizmente, foram devidamente associadas à aquelas que conhecemos.

As observações do céu que realizamos com índios de todas as regiões do Brasil permitiram localizar a maioria das constelações Tupinambá, apenas relatadas por d`Abbeville e de diversas outras etnias indígenas brasileiras.

Um dos motivos que nos incentivou a realizar este trabalho de resgate da astronomia indígena brasileira foi verificar que o sistema astronômico dos extintos Tupinambá do Maranhão, descrito por d’Abbeville, é muito semelhante ao utilizado, atualmente, pelos Guarani do Sul do Brasil, embora separados pelas línguas (Tupi e Guarani), pelo espaço (mais de 2.500 km, em linha reta) e pelo tempo (quase 400 anos). Verificamos, também, que algumas das constelações dos índios brasileiros, utilizadas no cotidiano, são as mesmas de outros índios da América do Sul e dos aborígines australianos.

Os índios brasileiros davam maior importância às constelações localizadas na Via Láctea, que podiam ser constituídas de estrelas individuais e de nebulosas, principalmente as escuras. A Via Láctea é chamada de Caminho da Anta (Tapi’i rapé, em guarani) pela maioria das etnias dos índios brasileiros, devido principalmente às constelações representando uma Anta (Tapi’i, em guarani) que nela se localizam.


A CONSTELAÇÃO DA EMA

A CONSTELAÇÃO TUPINAMBÁ DA EMA - YANDUTIN

Em relação à constelação da Ema, d’Abbeville relatou: “Os Tupinambá conhecem uma constelação denominada Iandutim, ou Avestruz Branca, formada de estrelas muito grandes e brilhantes, algumas das quais

representam um bico. Dizem os maranhenses que ela procura devorar duas outras estrelas que lhes estão juntas e às quais denominam uirá-upiá”. Ele chamou de Avestruz Branca a constelação da Ema, no entanto, a avestruz (Struthio Camelus Australis) não é uma ave brasileira. A ema parece com a avestruz, mas é menor e de família diferente.

Na segunda quinzena de junho, quando a Ema (Guirá Nhandu, em guarani) surge totalmente ao anoitecer, no lado leste, indica o início do inverno para os índios do sul do Brasil e o início da estação seca para os índios do norte do Brasil.

A constelação da Ema fica na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Crux e Scorpius. Ela é formada utilizando, também, estrelas das constelações Musca, Centaurus, Triangulum Australe, Ara, Telescopium, Lupus e Circinus.

A cabeça da Ema é formada pelas estrelas que envolvem o Saco de Carvão, uma nebulosa escura que fica perto da estrela α Crucis (Acrux). O bico da Ema é formado pelas estrelas α Muscae e β Muscae. A Ema tenta devorar dois ovos de pássaro (Guirá-Rupiá, em guarani) que ficam perto de seu bico. Os ovos são as estrelas δ Muscae e γ Muscae.

As estrelas α Centauri (Rigel Kentaurus) e β Centauri estão dentro do pescoço da Ema. Elas representam dois ovos que a Ema acabou de engolir.

A parte de baixo do corpo da Ema começa a ser formada pela estrela β Trianguli Australis, passando pelas estrelas η Arae, ζ Arae e ε1 Arae e pelas estrelas ζ Scorpii, µ1 Scorpii, ε Scorpii, τ Scorpii, α Scorpii (Antares) e σ Scorpii, terminando em δ Scorpii.

Uma das pernas da Ema é formada pelas estrelas da cauda de Scorpius, começando na estrela δ Scorpii e termina nos dedos do pé representados pelas estrelas υ Scorpii (Lesath), λ Scorpii (Shaula) e SAO 209318. A outra perna começa na estrela ε1 Arae, passa pela estrela α Arae e termina nos dedos do pé formado pelas estrelas α Telescopii, ε Telescopii e ζ Telescopii.

A cauda da Ema é formada pelas estrelas δ Scorpii, β1 Scorpii (Graffias), ω1 Scorpii, ω2 Scorpii e ν Scorpii, todas da garra de Scorpius.

A parte de cima do corpo da Ema, é formada pelas estrelas δ Scorpii, π Scorpii e ρ Scorpii também da garra de Scorpius, seguida pelas estrelas χ Lupi, γ Lupi, ε Lupi, κ Lupi e ζ Lupi, terminando na estrela β Circini, onde começa o seu pescoço.

Dentro do corpo da Ema, as manchas claras e escuras da Via Láctea ajudam a visualizar a plumagem da Ema.

A constelação Scorpius, excluindo suas garras e as estrelas que estão acima de Antares, representa uma Cobra (Mboi, em Guarani) para os índios brasileiros, sendo Antares a sua cabeça. De fato, é muito mais fácil imaginar uma cobra que um escorpião nessa região do céu.

Ao Sul do Trópico de Capricórnio, a constelação ocidental Scorpius é conhecida como de inverno e perto da Linha do Equador como de seca, tendo em vista que ela pode ser observada, ao anoitecer, nessas estações. 

Essa constelação, sem as garras, representa um cobra para os índios brasileiros.


A CONSTELAÇÃO DO HOMEM VELHO

A CONSTELAÇÃO TUPINAMBA DO HOMEM VELHO - TUYAVAÉ

Em relação à constelação do Homem Velho, d’Abbeville relatou: “Tuivaé, Homem Velho, é como chamam outra constelação formada de muitas estrelas, semelhante a um homem velho pegando um bastão”.

 Na segunda quinzena de dezembro, quando o Homem Velho (Tuya, em guarani) surge totalmente ao anoitecer, no lado Leste, indica o início do verão para os índios do sul do Brasil e o início da estação chuvosa para os índios do norte do Brasil.

A constelação do Homem Velho é formada pelas constelações ocidentais Taurus e Orion.

Conta o mito que essa constelação representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão. Para ficar com o cunhado, a esposa matou o marido, cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido e o transformaram em uma constelação.

A constelação do Homem Velho contém três outras constelações indígenas, cujos nomes em guarani são: Eixu (as Pleiades), Tapi’i rainhykã (as Hyades, incluindo Aldebaran) e Joykexo (O Cinturão de Orion).

Eixu significa ninho de abelhas. Essa constelação marca o início de ano, quando surge pela primeira vez no lado oeste, antes do nascer do Sol (nascer helíaco das Plêiades), na primeira quinzena de junho. Segundo d’Abbeville, os Tupinambá conheciam muito bem o aglomerado estelar das Plêiades e o denominavam Eixu (Vespeiro). Quando elas apareciam afirmavam que as chuvas iam chegar, como chegavam, efetivamente, poucos dias depois. Como a constelação Eixu aparecia alguns dias antes das chuvas e desaparecia no fim para tornar a reaparecer em igual época, eles reconheciam perfeitamente o intervalo de tempo decorrido de um ano a outro.

Tapi’i rainhykã significa a queixada da anta e anunciava que as chuvas estavam chegando, para os Tupinambá. Joykexo representa uma linda mulher, símbolo da fertilidade, servindo como orientação geográfica, pois essa constelação nasce no ponto cardeal leste e se põe no ponto cardeal oeste Joykexo também representa o caminho dos mortos.

A cabeça do Homem Velho é formada pelas estrelas do aglomerado estelar Hyades em cuja direção se encontra α Tauri (Aldebaran), a estrela mais brilhante da constelação Taurus.

Acima da cabeça do Homem Velho fica o aglomerado estelar das Plêiades que representa um penacho que ele tem amarrado à sua cabeça.

O pescoço do Homem Velho começa em Aldebaran e termina na estrela ο2 Orionis, de onde partem seus braços.

Um de seus braços termina em ζ Tauri. O outro braço termina em π6 Orionis, passando por todo o escudo de Orion.

A linha reta que vai de π5 Orionis até β Orionis (Rigel), representa um bastão que o Homem Velho utiliza para se equilibrar.

A estrela γ Orionis (Bellatrix) fica na virilha do Homem Velho, sendo que a estrela vermelha α Orionis (Beltegeuse) representa o lugar em que sua perna foi cortada. O Cinturão de Órion (Três Marias) formado pelas estrelas δ Orionis (Mintaka), ε Orionis (Alnilam) e ζ Orionis (Alnitak) representa o joelho da perna sadia. A estrela κ Orionis (Saiph) representa o pé da perna sadia.

Ao Sul do Trópico de Capricórnio, a constelação ocidental Orion é conhecida como constelação de verão e perto da Linha do Equador como de chuva, tendo em vista que ela pode ser observada, ao anoitecer, nessas estações.


CONSTELAÇÃO DA ANTA DO NORTE

CONSTELAÇÃO TUPINAMBA DA ANTA DO NORTE - TAPI'I

A constelação da Anta do Norte é conhecida principalmente pelas etnias de índios brasileiros que habitam na região norte do Brasil, tendo em vista que para as etnias da região sul ela fica muito próxima da linha do horizonte. Ela fica totalmente na Via Láctea, que participa muito nas definições de seu contorno, fornecendo uma imagem impressionante dessa constelação. 

Existem outras constelações representando uma Anta (Tapi’i, em guarani) na Via Láctea, por isso chamamos essa constelação de Anta do Norte.

Segundo Afonso (2006), os indígenas brasileiros, dão maior importância, àquelas constelações quehabitam a Via Láctea, ou Tapi’i’rapé, a Via Láctea é chamada de Caminho da Anta devido, principalmente, à  constelação da Anta do Norte.

Na segunda quinzena de setembro, a Anta do Norte surge ao anoitecer, no lado Leste, indica uma estação de transição entre o frio e calor para os índios do sul do Brasil e entre a seca e a chuva para os índios do norte do Brasil.

A constelação da Anta do Norte fica na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Cygnus (Cisne) e Cassiopeia (Cassiopéia). Ela é

formada utilizando, também, estrelas da constelação Lacerta (Lagarta), Cepheus (Cefeu) e Andromeda (Andrômeda).

A estrela α Cygni (Deneb) representa o focinho da Anta do Norte, sendo que 55 Cygni, ξ Cygni e 59 Cygni representam sua boca. O restante da cabeça é formado pelas estrelas 74 Cygni, σ Cygni, ν Cygni, 56 Cygni, 63 Cygni e π2 Cygni.

As estrelas τ Cygni e 72 Cygni representam as orelhas da Anta do Norte.

A parte de cima do pescoço começa em SAO 51904 (2 Lacertae) e a parte de baixo em ζ Cephei.

A parte de baixo do corpo da Anta do Norte começa a ser formada pela estrela ζ Cephei, passando pelas estrelas β Cassiopeiae (Caph) e α Cassiopeiae (Schedar), terminando em ζ Cassiopeiae.

As duas pernas da frente começam em ζ Cephei, sendo que uma delas termina em α Cephei (Alderamin) e a outra termina ι Cephei. As duas pernas de trás começam em β Cassiopeiae (Caph), sendo que uma delas termina em κ Cassiopeiae e a outra em δ Cassiopeiae (Ruchbah).

A cauda da Anta do Norte é representada pelas estrelas ζ Cassiopeiae e µ Cassiopeiae.

A parte de cima do corpo da Anta do Norte é formada pelas estrelas ζ Cassiopeiae, ψ Andromedae e λ Andromedae, terminando na estrela SAO 51904, onde começa o seu pescoço.


A CONSTELAÇÃO DO VEADO

A CONSTELAÇÃO TUPINAMBÁ DO VEADO - SYGÛASU


A constelação do Veado é conhecida principalmente pelas etnias de índios brasileiros que habitam na região sul do Brasil, tendo em vista que para as etnias da região norte ela fica muito próxima da linha do horizonte.

Na segunda quinzena de março, o Veado surge ao anoitecer, no lado Leste, indica uma estação de transição entre o calor e o frio para os índios do sul do Brasil e entre a chuva e a seca para os índios do norte do Brasil.

A constelação do Veado fica na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Vela (Vela) e Crux (Cruzeiro do Sul). Ela é formada utilizando, também, estrelas da constelação Carina (Carina) e Centaurus (Centauro).

A estrela γ Velorum (Suhail Al Muhlif) representa o focinho do Veado, sendo que sua cabeça é formada pelas estrelas SAO220138, SAO 220803, λ Velorum (Alsuhail), SAO 220371 e SAO 220204.

Partindo da estrela λ Velorum até as estrelas ψ Velorum e SAO 200163, temos os dois chifres do Veado.

 A parte de cima do pescoço começa em κ Velorum e vai até SAO 220803, a parte de baixo começa em δ Velorum e vai até SAO 220138.

A parte de baixo do corpo do Veado começa a ser formada pela estrela δ Velorum, passando pelas estrelas ι Carinae (Aspidiske), SAO 250683, θ Carinae, η Crucis, ζ Crucis, α Crucis e ε Crucis, terminando em δ Crucis.

A cauda do Veado é representada pelas estrelas δ Crucis, β Crucis e γ Crucis. A parte traseira do Veado é formada por todas as estrelas da constelação Crux.

As duas pernas da frente começam em SAO 250683 e θ Carinae sendo que uma delas passa por υ Carinae, terminando em β Carinae (Miaplacidus) e a outra termina em ω Carinae. As duas pernas de trás começam em η Crucis e ζ Crucis sendo que uma delas passa por λ Muscae e ε Muscae, terminando em γ Muscae e a outra passa por α Muscae e β Muscae, terminando em δ Muscae.

A parte de cima do corpo do Veado é formada pelas estrelas γ Crucis, π Centauri e φ Velorum, terminando na estrela κ Velorum, onde começa o seu pescoço.


Referencias

Afonso -Constelações Indígenas de Germano Afonso - Germano Bruno Afonso (UFPR)

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Bruchac - Thirteen Moons on Turtle's Back de Joseph Bruchac

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http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/246176/mod_resource/content/1/Cosmologia%20ind%C3%ADgena%20

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Cauim Sugestão de Processos de Introdução e Aculturação para uma Bebida Milenar Brasileira

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