O Tupi Pop

A corrente artística de Luiz Pagano - Tupi Pop - busca ir além das aparências superficiais e trazer à tona a essência de nossa diversidade cultural e étnica, já levou às ruas de Curitiba o evento Capivara Parade, mostrando a importância das boas relações entre os centros urbanos e a natureza, e gerando recursos para a campanha do agasalho local; o Projeto Tembiu trouxe mais de 120 insumos da floresta Amazônica para a comunidade de Coquetelaria no ano de 2014, ao Lado dos Chefes Tiago e Felipe Castanho; e por meio do Dia do Anhangá, trás agora a ambiciosa proposta de integrar todas as etnias e culturas pertencentes ao vasto território brasileiro. “A data de 17 de julho foi muito bem escolhida não só pela associação com a proteção da natureza, más também com a proximidade da data de um outro evento de amor e paz ente europeus e brasileiros – 30 de julho 1524 data do casamento de Diogo Álvares Correa Caramuru e Paraguaçu na lendária Catedral de de Saint Malo. Eu, brasileiro da Aldeia do Inhapuambuçu, que ainda moro próximo ao triangulo histórico, neto de Zuzu Correa de Moraes que nasceu no casarão da Rua da Gloria N.º4, onde hoje fica o respiro do metrô Liberdade, no coração do Inhapuambuçú, propnho um suspiro de liberdade, amor e união. É imprescindível ressaltar que a união e aproximação das diferenças não significa ignorar ou minimizar o sofrimento vivido pelos povos indígenas diante do colonizador, que cometeu crimes como genocídio, tortura e obliteração da cultura originária por meio da catequese, entre vários outros crimes indizíveis. A idéia aqui é o início de um diálogo respeitoso e inclusivo, em que suas vozes sejam ouvidas e suas demandas atendidas. Ao organizar seu evento indígena em São Paulo, o que mais levei em consideração foi a importância de criar um espaço seguro e acolhedor para que os povos indígenas possam compartilhar suas histórias, expressar suas culturas e se fortalecerem enquanto comunidades. Somente através do reconhecimento de suas lutas passadas e presentes, poderemos construir uma sociedade mais justa e equitativa para todos. Foi no triásico que o Inhapuambuçú fez unir das vertentes os rios Tamanduateí e Anhangabaú, foi a quase 500 anos o Inhapuambuçú fez unir João Ramalho e Potyra e será aqui, no Inhapaumbuçú que os povos brasileiros aprenderão a se respeitar e a viver em paz e harmonia. Devo dizer ainda que me orgulho do sobrenome Correa de minha família, a mera possibilidade de ser descendente de Caramuru e Paraguaçu me enchem de orgulho”. Luiz Pagano – Outubro de 2019

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Glossário Tupi - Português para Produção de Cauim Contemporâneo



Este glossário foi criado para apoiar quem deseja compreender e praticar a produção tradicional de cauim a partir de uma perspectiva tupi, com respeito à língua e à cultura dos nossos povos originários. Ele reúne verbetes essenciais em português com suas correspondências em tupi antigo, organizados de acordo com os processos de preparo da bebida.

Saiba mais sobre o cauim contemporâneo e o Cauim Tiakau

Além dos termos tupis, alguns verbetes também trazem palavras em japonês, kanji seguido de romaji (glossário trilíngue). Isso ocorre porque o pesquisador Luiz Pagano estudou profundamente o método japonês de produção de saquê (日本酒, nihonshu) e adaptou parte de seus princípios técnicos e simbólicos para enriquecer o processo de fazer cauim, criando um diálogo intercultural entre as tradições do Brasil indígena e do Japão ancestral.

É importante ressaltar também que o escopo desse compêncio de palavras ultrapassa os limites das etnias originalmente falantes da língua tupi. Isso porque diversas outras etnias sul-americanas — como os Xokleng, do tronco linguístico jê, com sua bebida fermentada chamada mõng, ou os Ashaninka, do tronco aruak, com o tradicional masato — desenvolveram processos próprios de fermentação que ampliam significativamente o repertório técnico e simbólico do cauim. A inclusão desses termos e práticas é fundamental para refletir a diversidade e a sofisticação das tecnologias indígenas de produção de bebidas fermentadas, que, embora distintas, dialogam diretamente com a lógica do cauim tupi e enriquecem sua compreensão contemporânea.

Cauinágem tupi do século XVI. Na figura 1, as chamadas "mulheres que preparam o cauim" (Kaûĩ apó-sara) iniciam o processo de produção fervendo pedaços de mandioca misturados com água em uma panela cerimonial chamada Nha'êpepó (fig. 2), mastigando e cuspindo a mandioca em uma grande cabaça (fig. 1). a seguir, o cauim é colocado para fermentar em grandes vasos de cerâmica conhecidos como Kamuci. Ao fundo, tocadores de flautas feitas de ossos humanos aparecem, e dançarinos participam da dança ritual (poraseîa), sacudindo seus maracás e bebendo cauim em suas cabaças em uma celebração comunitária.

Destacamos também que, naturalmente, não existiam na língua tupi antiga termos específicos para a produção de bebidas fermentadas nos moldes em que compreendemos hoje. Conceitos como 'esporos', 'fungos' ou mesmo 'fermentação' — tal como definido a partir dos estudos de Pasteur — não faziam parte da cosmovisão indígena da época. Por essa razão, muitas palavras tupi foram cuidadosamente apropriadas com base em seus significados sensoriais e simbólicos, procurando-se sempre respeitar a lógica original do idioma e evitando ao máximo o uso de neologismos desnecessários.

Um bom exemplo disso é o uso da palavra "Sabẽ" para se desgnar o koji, os esporos ou fungos - Em tupi antigo, não havia vocábulo específico para "esporo" ou "fungo" como os compreendemos na microbiologia moderna. Isso porque o conhecimento indígena tradicional observava os efeitos visíveis — como o cheiro, o sabor, a textura — mas não nomeava agentes microscópicos. Sabẽ vem de savẽ (forma moderna), e refere-se a algo que tem o sabor, gosto azedo, que foi fermentado.

Não se poderia usar os cogumelos muito conhecidos como o urupé (Monteiro Lobato - Urupês) para dar nome aos fungos, porque trata-se de um cogumelo específico, o Pycnoporus sanguineus, e não o fungo Aspergillus oryzae (koji-kin, 黄麹菌), que usamos mais frequentemente para funções amilolíticas.

Logo, "Sabẽ", nesse caso, foi adaptado para ser usado como esporos de maniera geral, seus efeitos funcionais e sensoriais.

Outras adaptações que utilizamos para designar "esporos" ou "fungos" são:

1. Ygynõ / Hagynõ

Usado aqui para fermentação alcoólica, vem de ygynõ, que significa “bafio, cheiro de mofo, cheiro fermentado”.

Pode representar a presença sensorial do fungo (cheiro e aparência), muito mais do que seu nome técnico. Poderia ser adaptado, por exemplo: mbeîu ygynõama – o beiju mofado, afetado pelo mofo. ygynõ nonga – colocar o mofado (em referência ao arroz inoculado).

2. Tygûara ou Moatara

Não documentadas diretamente como fungo, mas algumas variações em línguas tupis modernas indicam usos para "coisa que surge do apodrecimento" (metáfora para fungo, bolor, mofo). Poderiam ser inventadas ou resgatadas com licença poética/linguística, por exemplo:

mbeîu moatara nonga – colocar o que surge (fungo).

"Sabẽ mboapó" – “preparo sápido” ou “inoculação saborosa/mal saborosa”
Para indicar o processo de inocular os esporos que vão trazer sabor ao beiju.

"Ygynõara" – “o causador do mofo / fermentação”
Como uma forma de nomear o koji, ou os fungos em si.

"Koji mboguata" – “trabalho do koji” (empréstimo japonês + verbo tupi)

A composição deste glossário contou com a colaboração de estudantes de Tupi Antigo, envolvidos em um movimento de revivalismo cultural da Aldeia Tracoeira, localizada na Baía da Traição, na Paraíba. Orientados pelo professor Eduardo Navarro, esses estudantes contribuíram não apenas para a tradução e estruturação dos processos em Tupi, mas também compartilharam um profundo conhecimento sobre as bebidas originárias e suas tradições. Portanto, mais do que um recurso linguístico — este glossário é uma ferramenta de preservação e reinvenção cultural.

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TUPI – PORTUGUÊS

à– (dem. Pron.) – este (s, a ,as); isso

A’ang – 1) compassar, medir, tirar a medida de: Asa-ang – Medi-o; Aty-ypy-a’ang – Eu medi a profundidade da água. 2) pesar (com pesos ou balanças) sa’angymbyra – o que é (o que deve ser medido); a’angaba (t) – tempo , lugar, modo, instrumento, etc.

A’ang²  – 1) tentar, experimentar, por a prova, teste:  I abaí xébo sa’anga – É difícil para eu fazer essa experiência. 2) provar, experimentar, gostar, degustar (sentir o gosto de):  Marã e’ipe sa’ang’iré?  – O que ele disse após experimentar? (isso é bebdia?)

Aanumẽ - (ou aanymẽ) – não: Aanumẽne! Asabeypó... – Não, Estou bêbado

Ab - (v. tr. Irregular; no indicativo é usado somente como objeto incorporado) – abrir; cortar, rachar, fender: Abyrá-‘ab - Corto madeira. kamusi’ab  - abrir a garrfa. yby ‘apaba – rachadura da terra, cova , buraco, sulco

Abati (s.) – AVATI, AUATI, milho, planta da família das gramíneas (Zea mais L.): Atupá-rung abati – Estabeleci uma plantação de milho. 

Abati-‘y (s.)– ABATINI, Variedade de bebida feita de milho; vinho de milho

Abati-tyba – milharal

Abaty una – milho preto

Abyraru – úmido, umidade (adj.) 

Aigûera (s.) – refugo sobra: Kaûĩ aigêra – resíduo sólido do cauim após a filtração. Na produção de cauim, aigûera refere-se ao material sólido que resta após a fermentação e a filtragem da bebida — uma parte muitas vezes descartada, mas que possui valor.

No método japonês de produção de saquê (método Pagano), esse resíduo é chamado de sake kasu (酒粕), uma pasta rica em leveduras, aminoácidos e outros nutrientes. Tradicionalmente, o sake kasu é aproveitado em diversas aplicações, como base para novos fermentados, temperos ou até cosméticos. Inspirado nesse princípio, a aigûera do cauim também pode ser reutilizada em novos ciclos de produção ou para enriquecer preparos culinários e rituais.

Este verbete destaca o valor simbólico e prático de não desperdiçar o que sobra, ressignificando o refugo como fonte de potência.

Aîo – AIÓ, alforge saco; bolsa – Itatinga mbeîu aîo – saco de pérolas de mandioca (sagu). N’i pori be’ĩ xe aîo – não contem mais nada no meu saco

Aîpĩ (s.) AIPIM, UAIPI, AIPI, planta da família das euforbiáceas, gênero Manihot; espécie de mandioca também conhecida como macaxera (Piso, De Med. Bras. IV, 177).

Aîpi Kytĩ-ana (loc. v.) Cortar e ralar a mandioca (método ritualístico) - as Kaûĩapó-sara (mulheres que fazem cauim) cortam e descascam a mandioca, submetendo-a a um cozimento inicial até que esteja no ponto de maceração.

Aîpi o- su'u su'u I nomu - (loc. v.) (etim. mastigar a mandioca e cuspi-la) (método ritualístico) - Este é o processo de mastigar e cuspir a mandioca na Ygassaba. Para esse processo, os indígenas utilizam a amilase da saliva para quebrar a molécula de amido em açúcares. Em algumas casas, jovens virgens de 12 a 16 anos, chamadas Kunhã-Muku, são responsáveis ​​pelo su'u su'u (mastigação) por cerca de 4 minutos e pelo subsequente nomu (cuspidura).

Aîpi-tyba – mandiocal.

Caiçuma(s.) (método ritualístico), cauim feito integralmente de mandioca fermentada dos Yawanawa, e outras etnias pertencentes ao gurpo linguistico da família pano. Os Yawanawa ocupam atualmente a Terra Iindigena do Rio Gregório, no Acre. Caxirí é o nome dado ao cauim na tradição desses gurpos linguisticos. Trata-se da mesma bebida fermentada ancestral, preparada unicamente com mandioca denominada genericamente com "cauim". 

Como no território brasileiro, existem centenas de povos originários com línguas e cosmologias distintas, o cauim assume diversos nomes, métodos e ingredientes, refletindo a diversidade cultural do território. A festa 'Uma Aki' - No contexto do xamanismo Yawanawa, a cauiçuma ganha status de “remédio sagrado” durante um evento denominado üma aki". Durante as sessões de cura conduzidas pelo xinaya (rezador), a bebida é preparada com especial cuidado: após a ingestão conjunta com a ayahuasca, o rezador entoa rezas chamadas shuãnka sobre um pote cheio de cauiçuma. A bebida então absorve o poder das palavras cantadas e se transforma em veículo de restauração espiritual, sendo entregue ao paciente como parte do tratamento. Esse ritual parte de um princípio singular: o diagnóstico da doença é revelado pelo sonho do paciente anterior ao adoecimento — uma ponte direta entre o mundo onírico e o processo de cura.

Caxirí (s.) (método ritualístico), cauim de diversas etnias do grupo linguístico tupi, aqui tomado como base o caxirí dos Wayampi*, bebida fermentada feita exclusivamente de mandioca. Os Wayampi habitam a região entre os rios Oiapoque, Jari e Araguari, no Amapá. Caxirí é o nome dado ao cauim na tradição desses gurpos linguisticos. Trata-se da mesma bebida fermentada ancestral, preparada unicamente com mandioca denominada genericamente com "cauim". Como no território brasileiro, existem centenas de povos originários com línguas e cosmologias distintas, o cauim assume diversos nomes, métodos e ingredientes, refletindo a diversidade cultural do território. 


O caxirí é um elo cerimonial entre os humanos e as forças da natureza, oferecendo alegria divina aos espíritos guardiões como Mojú (o dragão do rio) e Kumaka (o espírito da natureza). Seu consumo ritual garante colheitas abundantes e a travessia segura dos rios. Uma vez colhida, a mandioca é colocada em grandes cestos chamados panakos (fig. 1). Enquanto isso, as Wajuins (fig. 2), as virgens da aldeia, são pintadas com padrões cerimoniais chamados Kusiba, e mastigam a mandioca. - O caxirí é preparado por uma ou duas mulheres da comunidade em kassirenas(fig. 3), gamelas ou barcos de fermentação escavados em tronco único de madeira com pouca profundidade e grande superfície, para facilitar a inoculação da massa de mandioca com leveduras endógenas, onde fermenta por até 20 dias em ambiente aberto. Ao final, a bebida é servida e os Deuses são agraciados com a mais pura felicidade da etnia, garantindo boa colheita, e a segura passagem pelo rio Wayampi.
A língua falada pelos Wajãpi se inclui na família Tupi-Guarani. Com os Emerillon do rio Oiapoque, na Güiana Francesa, são os únicos representantes desta família linguística na área.

Chicha (s.) (método ritualístico) (bebida fermentada tradicional andina), Do quíchua “chicha” — Chicha é o nome tradicional dado às bebidas fermentadas produzidas a partir do milho, muito comuns entre os povos dos Andes, como os Quéchua e os Aymara. Existem duas formas principais de preparo: 1- Chicha de jora – feita com milho germinado e malteado, similar ao processo de fabricação do malte; 2- Chicha de muko – feita com milho mastigado e cuspido, técnica ancestral que ativa a fermentação por ação da amilase salivar. Apesar de ser um termo originalmente andino, o nome chicha também foi adotado por povos indígenas do Brasil, como os Apiacás, que produziam a bebida a partir da mandioca, utilizando os mesmos métodos fermentativos. Da mesma forma, algumas etnias brasileiras — como os Araweté, por exemplo — produzem fermentados de milho, mas os chamam de cauim, evidenciando que os nomes variam conforme a cultura, a língua e o contexto simbólico.

Doburoku - (n.)(etim. jap. どぶろく ou 濁酒 — “saquê turvo”)(Método Pagano). Este é talvez o único verbete neste glossário que não possui equivalente em tupi antigo. Doburoku é o nome dado a um tipo de saquê rústico, não filtrado, tradicionalmente preparado à mão com utensílios simples, muitas vezes em ambiente doméstico. Sua aparência é opaca e leitosa, resultado da presença de arroz fermentado ainda suspenso no líquido, sem processo de filtração. Ao contrário do saquê refinado (seishu), que passa por processos de clarificação e pasteurização, o doburoku preserva as características cruas e vigorosas da fermentação, mantendo um sabor forte e levemente ácido e uma textura encorpada. Durante o Período Meiji (1868-1912), o governo japonês centralizou e impôs impostos rigorosos à produção de álcool, proibindo a fabricação caseira de saquê — o que incluía o doburoku. Essa proibição permanece em vigor no Japão até hoje.

Enoĩ (ou enoín) - (v. tr) - estar (parado ou sentado),  Verbo que expressa o ato de sentar-se, ficar em repouso ou permanecer estacionado. No contexto das bebidas fermentadas, enoî pode ser usado para indicar o momento de descanso ou envelhecimento da bebida após sua preparação — um estado em que ela amadurece em silêncio, sem ser perturbada. mokõĩ îasy erenoĩ Kaûĩ - Cauim repousado por 58 dias (periodo aproximado de duas luas). 

Haguino (v./s.) – fermentação alcoólica De ygynõ – bafio, cheiro de mofo.
Processo em que os açúcares, extraídos do beiju ou pérolas, são transformados em álcool. Na fermentação do cauim, assim como no saquê, ocorre uma fermentação múltipla paralela (並行複発酵 - heikō fuku hakko)um processo no qual, ao mesmo tempo em que ocorre a quebra enzimática do amido em açúcares, a levedura também atua sobre esses açúcares e os fermenta, diferentemente do mosto vínico, que já tem açúcares prontos para fermentar.No método japonês (método Pagano) bem como no enzimático (método Sena), o moromi fermenta a baixas temperaturas, já nas aldeias (método ritualístico) a fermentação ocorre à temperatura ambiente, geralmente em temperaturas tropicais.

João Ramalho e o cacique Tibiriça, hoje batizado como Martim Afonso, encontraram-se aos pés do Morro carec do Inhapuambuçu, com a emblemática pedra rachada por um raio, Itaecerá. Dste lugar hoje resta apenas o morro parcial do Jardim Oriental da Liberdade. Área geomântica tupi, afro-brasileira e japonesa, que mais tarde abrigou o Cemitério dos Aflitos e hoje abriga um torii japonês, símbolo da passagem do mundo dos mortos para o dos vivos.

Inhapuambuçu (s.) do tupi antigo: i(nh)apu'ãm-busú ou y(nh)apu'ãm-busú
Significado: “grande cume” ou “grande ponto do rio”. Inhapuambuçu era o nome de uma antiga aldeia indígena localizada no atual Centro Histórico de São Paulo, antes da chegada dos colonizadores portugueses. Liderada pelo morubixaba Tibiriçá, a aldeia ocupava uma posição estratégica sobre um morro elevado, de onde se avistavam longas distâncias. Em 1554, esse mesmo local passou a abrigar o Colégio de São Paulo, marco inicial da cidade. A região do Inhapuambuçu, onde hoje se encontra o bairro da Liberdade, era considerada de forte energia geomântica pelos povos Tupi. Seu ponto mais alto era o morro calvo de Itaecerá, a pedra que foi rachada por um raio, reverenciado como um sinal sagrado do deus Tupã, o deus dos trovões. No século XIX, o morro foi nivelado e seu solo usado para aterrar a Várzea do Carmo — terreno que mais tarde se tornaria palco do primeiro jogo oficial de futebol do Brasil, em 14 de abril de 1895. O confronto amistoso entre os funcionários da São Paulo Gás Company e da São Paulo Railway, com vitória de 4 a 2 para os ferroviários, foi narrado por Charles Miller, considerado o pai do futebol brasileiro.

Itaitinga Beiju (s.)(etim. pérolas de mandioca)(método Pagano), o sagu, também conhecido como "pérolas de mandioca", é um produto derivado da fécula extraída da raiz da mandioca (Manihot esculenta), por meio de um processo que envolve moagem, decantação, secagem e aglutinação controlada. Essas pequenas esferas brancas e translúcidas são formadas quando a fécula úmida é submetida a um processo de granulação e aquecimento, em que os grânulos de amido se aglomeram em pequenas esferas, posteriormente secas até atingir o ponto ideal para cocção. 


A produção em escala do sagu envolve etapas semelhantes às da fabricação da goma de tapioca, utilizando uma usina de processamento de fécula de mandioca. (eg.) Para uma linha de produção com capacidade de fabricar até 1000 pacotes de tapioca por hora, são necessários os seguintes equipamentos: 1- Misturador de 1000 litros (7,5cv): utilizado para hidratar e homogeneizar a massa de fécula com água, preparando-a para a decantação. 2 - Tanque de decantação de 1000 litros: onde a suspensão de fécula e água é deixada em repouso, separando o amido da água e impurezas por gravidade. 3 - Moinho com capacidade de 500 kg/hora: essencial para a moagem da mandioca fresca e extração da fécula. 4 - Esteira taliscada: transporta a fécula umidificada ao setor de granulação ou secagem, mantendo o fluxo contínuo e evitando acúmulos. 5 - Dosador: responsável pela dosagem precisa da fécula granulada ou seca nos pacotes, garantindo padronização e produtividade. O sagu é muito utilizado na culinária brasileira e amazônica, seja em sobremesas como o tradicional "sagu ao vinho", ou como espessante natural em caldos e sopas. Seu formato de pérola é resultado direto do controle da umidade, da agitação mecânica e do aquecimento aplicado durante a fabricação.

Kamuci - CAMBUCI (s.)(método ritualístico),  o kamuci é o nome dado à panela ancestral de fermentação utilizada pelos povos tupis no preparo do cauim, bem como a dorna de ferentação de aço para o cauim contemporâneio. Feita geralmente de cerâmica, essa vasilha tinha um formato abaulado, semelhante ao fruto do cambuci (Campomanesia phaea), e servia como recipiente principal para a fermentação das bebidas rituais e alimentares à base de mandioca ou milho. Segundo registros históricos (cf. Brandão, Diálogos, p. 67), o termo kamusi ou camucim também era usado para designar potes, talhas, ou mesmo urnas funerárias — inclusive as cavidades (covas ou cavernas) onde essas urnas eram colocadas. O uso do mesmo termo para recipientes de fermentação e de sepultamento indica a importância simbólica e cosmológica da peça: um vaso onde a matéria se transforma — seja alimento que fermenta, seja corpo que retorna à terra.

kamuci é o nome dado à panela ancestral de fermentação utilizada pelos povos tupis no preparo do cauim (em analogia ao formato da fruta do cambucí), bem como a dorna de ferentação de aço para o cauim contemporâneio.

Além disso, o fruto do cambuci, comum na região sudeste (como no bairro Cambuci, no Rio de Janeiro e em São Paulo), recebeu esse nome justamente por lembrar a forma dessas talhas indígenas.

Kamusi pupé kaûĩ moina (loc. v.) –  “colocar o cauim no vaso”. Processo final de engarrafamento. 

Kassirena - KASIRIRENA, CASSIRIRENA, CASIRIRENA (s.)(etim. - local onde se fermenta o caxiri), gamelas ou barcos de fermentação escavados em tronco único de madeira com pouca profundidade e grande superfície, para facilitar a inoculação da massa de mandioca com leveduras endógenas. 

Kaûĩ (s.) – CAUIM, bebida indigena feita de mandioca (aipim, milho ou caju) fervida e depois mastigada e cuspida, ... por mulheres, para se fermentar com a enzima da saliva (Staden, Viagem 58).

Kaûĩ apó-sara (etim. - mulheres que fazem o cauim ) (método ritauístico) produtoras de cauim

Kaûĩgûasuba'e - beberrão

Kaûĩagûé - (etim. - a metade do cauim) (s. antrop.) - nome de indigena tupi (D'Abberville, Histoire, 186v)

Kaûĩaîa - (ou Kaûĩ'iaîa) (etim. cauim azedo) (s.) - vinagre (VLB, II 145), ácido acético.

Kaûĩaîasy - (etim. cauim azedo e ruim) (s.) - cauim estragado: Mba'e-py'aûpiara Kaûĩaîasy resé i monani... Uma coisa amarga com cauim estragado misturaram. (Ar. Cat. 63v)

Kaûĩeté - (etim. cauim verdadeiro) (s.) - (Anch, Cartas 459) como cauim era o nome genérico para bebidas alcoólicas fermentadas, os colonizadores e outras etnias falantes de outras línguas chamavam genericamente o vinho e outras bebidas de 'cauim' - nesse sentido, o termo Kaûĩeté era usado para designar o considerado "cauim verdadeiro", aquele feito de mandioca mastigada e cuspida.

Kaûĩ moîese’ara (loc. v.) – blending, mistura de cauins Etapa de equilibrar diferentes lotes da bebida. Inspirado no conceito do blending de vinhos e saquês, esse processo permite nuances e controle de perfil sensorial. Palavra composta que indica ação e intenção.

Kaumondá (etim. - ladrão de cauím) (s. an trop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 130, 2006)

M'baraká (s.) - O maracá (m’baraká) vai além do instrumento musical: é um receptáculo de espíritos, cujos sons reproduzem a voz dos ancestrais e dos encantados, conforme registrado por cronistas como Hans Staden, Jean de Léry e etnógrafos como Lévi-Strauss e Alfred Métraux. Dentro dessa cosmovisão, o som do maracá é a própria vibração da vida, assim como o corpo vibra com a presença do espírito.

Mani-- elemento de composição presente em mani'oka, mani'yba, manipo'i etc.

Manikuera(s.)(etim. extraído da mandioca )(método Sena), grupo um doce tipo 2. o mesmo que Mani'oketé, o polvilho doce, chamado em tupi de manikuera, é o amido puro da mandioca obtido por decantação e secagem lenta, sem fermentação. De sabor neutro e textura fina, é amplamente utilizado na culinária e, de forma técnica e ancestral, na produção do cauim pelo método Sena, processo que envolve hidratação controlada e modificação enzimática do amido. No contexto do cauim Sena, o polvilho doce é hidratado e gelatinizado com o uso de enzima alfa-amilase termoestável que quebra as cadeias complexas de amido em unidades menores, facilitando a conversão para açúcares fermentáveis. Em seguida, aplica-se uma alfa-amilase de segunda etapa para promover a sacarificação completa, criando um mosto rico em açúcares prontos para fermentação alcoólica. A principal diferença entre polvilho doce e polvilho azedo está no processo de fermentação. Enquanto o doce é obtido por simples decantação da fécula e secagem, o azedo passa por fermentação natural antes da secagem, o que lhe confere aroma ácido e propriedades elásticas específicas — fundamentais para produtos como o pão de queijo, mas inadequadas ao processo de fermentação alcoólica.

Mani'oka (ou mandi'oka) (s.) - MANDIOCA, MANDIOCA-MANSA, nome comum a plantas leitosas da família das euforbiáceas, entre as quais a Manihot esculenta Crantz, cujos tubérculos são muito usados para a alimentação. Existem espécies venenosas, usadas para se fazer farinha. É também chamada aipim, macax.eira, MANDIOCA-DOCE, maniva, pão-de-pobre etc. OBSERVAÇÃO - O termo mandi'oka parece aplicar-se, mais precisamente, à raiz dessas plantas, designando mandi'yba (v.) o arbusto delas (D' Abbevill e, Histoire, 229v; Marcgrave, Hist. Nac. Bras., 65).

Mani'okaba (s.) - variedade de mandioca utilizada pelos indigenas para a preparação de papas e uma bebida chamada karaku (v.) (D'Abbeville, Hisloire, 230) 

Mani'oketé (etim. - mandioca verdadeira) - o mesmo que mandi'oka (v.) (D'Abbeville, His toire, 230) manipo'i (etim. - mani fininho) (s.) - sopa feita pelos índios com a MANIPUERA, o caldo da mandioca espremida (D'Abbeville, Ilistoire, 223) manipokamiri (etim. mani estourado peque no) (s.) - variedade de mandioca (Sousa, Trat. Descr., 173) manipuera (etim. - suco de mani) (s.) - MA NIPUEIRA, MANIPUERA, suco leitoso ela mandioca ralada, obtido por compressão, e que contém o veneno da planta. Evaporado o veneno, ao fogo ou ao sol, faz-se do líquido o molho denominado tucupi. Também é cha mado de MANICUERA, águabrava, água de goma. (.Marcgrave, Ilist. Nat. Bras., 67; Piso, De Med. Bras., Ili, 173).

Manisoba (etim. - mani folhudo) (s.) - MA N IÇOBA, 1) folha Lia mandioca (Manilwt esculenta Crantz); Z) planta da família das euforbiáceas (Manihol glaziovii Muell. Arg.), de que se extrai borracha (Marcgrave, Hist. Nat. Bras. , 68) 

Mani'yba (ou mandi'yba) (etim. - pé de mani) (s.) - MANIBA, MANIVA, outro nome para a variedade ele mandioca Manihot esculenta Crantz (D'J\bbeville, llistoire, 229v; Marcgra ve, Ilist. Nat. Bras., 65) OBSERVAÇÃO - O termo mandi'oka (v.) parece aplicar-se, mais precisamente, à raiz dessas plantas, designando mandi'yba o arbusto delas (D'Abbeville, 1-/istoire, 229v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 65).

Masato (s.) (bebida fermentada de mandioca dos Ashaninka)(método ritauístico), também chamado de Piarentsi, o masato é uma bebida fermentada de mandioca mastigada com profundo valor cultural, espiritual e social. Preparado exclusivamente pelas mulheres da etnia Ashaninka — povo Aruak que habita regiões do Alto Juruá e da bacia do rio Envira (Brasil e Peru). O preparo começa com a mastigação da mandioca cozida, cuja saliva ativa a sacarificação do amido. A massa é então depositada em grandes potes cerâmicos em formato de kamusy tupi (chamados de tsota) para fermentar, sendo depois servida em cuias feitas do mesmo fruto (tsotameki), num ritual de hospitalidade. Beber o Masato é partilhar vida, memória e pertencimento.


Homens e mulheres desempenham papéis distintos nesse universo: enquanto elas dominam o saber da fermentação, eles expressam sua identidade com a Cushma (túnica de algodão) e com o Amathairentsi, adorno de cabeça que simboliza a luz divina que guia o pensamento.

Mbeîu apó (loc. v.) – preparo do beiju - Etapa inicial da base sólida do cauim.
Preparar o beiju/tapioca, mbeîu apó, é abrir caminho para o ciclo fermentativo. Também usado como verbo cerimonial: “vamos iniciar o cauim”.

Mbeîu moakyma (loc. v.) – embeber o beiju -Hidratar o beiju com água (método Sena), buscando ativar esporos. Processo experimental que não teve bons resultados, mas revela o espírito de investigação dos kaûĩ apó-sara contemporâneos.

Mbeîu motimbora (loc. v.) - 蒸米 MUSHIMAI, do Processo de Cozimento a Vapor do Arroz  蒸し米の巻 (Mushi kome no maki) – cozinhar o beiju no vapor - Processo de hidratação por vapor, base para a inoculação de esporos.
Aîpi porang mbeîu motimbora – pérolas de mandioca preparadas ao vapor, prontas para o koji.

Mbeîu mogûaba (loc. v.) – coar o beiju, separar o líquido fermentado do bolo sólido. Etapa que define a textura final do cauim no método enzimático (método Sena), comparável à prensagem do saquê (shibori). Mogûaba traz o sentido de purificar e revelar o espírito da bebida.

Mbo'y'u – dar de beber

Minga (n.) - Mingau esporulado e pronto para ser fermentado (método Pagano)- Moromi (醪)

Assim como o saquê, que é preparado usando um método chamado "san-dan jikomi" (三段仕込み), ou fermentação em três estágios, a adição de ingredientes é dividida em três fases ao longo de 3 ou 4 dias. No primeiro dia, o shubo, o sabẽ (麹 kōji), a água e o arroz cozido no vapor são colocados em um tanque menor (chamado soetanku – 添タンク) e misturados. Este estágio é chamado de "soe-jikomi" (添仕込) — ou primeira adição.

O minga (assim como o moromi) não pode ser chamado de mosto, como na vinificação, porque ainda não possui açúcares prontos. Na fermentação do cauim, assim como no saquê, ocorre uma fermentação múltipla paralela (並行複発酵 - heikō fuku hakko). 

Mõg (s.)(método ritualístico), bebida ritual dos Laklãnõ/Xokleng - o mõg é uma bebida fermentada tradicional do povo Laklãnõ/Xokleng, preparada a partir de mel silvestre, pinhão mascado, miolo de xaxim (Dicksonia sellowiana) e outros ingredientes secretos transmitidos pelos Kujá (anciãos) aos discípulos mais comprometidos. Produzida em grandes troncos escavados chamados Kakéj, essa bebida desempenhava papel central em rituais importantes como casamentos, celebrações de caça bem-sucedida e, sobretudo, nas cerimônias de perfuração de lábios dos meninos — momento em que as crianças podiam bebê-la por suas propriedades analgésicas e anestésicas.

O mõg é feito com  mel silvestre, pinhão mascado, miolo de xaxim Dicksonia sellowiana (fig. 01), acima a ltima festa tradicional realizada para a perfuração de lábios dos meninos (fig. 02). Abaixo o Kakej (fig. 03) , a canoa de fermentação dos Xoklengs, muitas vezes esculpida na araucária, onde é fermentada a bebida tradicional.

A fermentação do Mõg envolve práticas ancestrais profundamente ligadas ao mundo espiritual Xokleng: mulheres trituravam o xaxim e mascavam o pinhão sob orientação dos Kujá, enquanto pedras de ferro aqueciam a mistura no Kakéj, trocadas ritualmente a cada quinze ou trinta minutos. A bebida fermentava de seis a quinze dias, dependendo do tipo de mel, e só podia ser consumida por mulheres com moderação, crianças em ritos específicos, e homens que já tivessem provado seu valor na floresta.

Hoje, a produção do Mõg sobrevive em ocasiões especiais, como o Dia do Índio (19 de abril) e o 22 de setembro, data do primeiro contato com os brancos. Preservada em segredo e reverência, a receita do Mõg permanece como elo entre tradição, território e cosmovisão Xokleng.

Mondykaba (s./v.) – término do processo - Fase final do ciclo de produção do cauim. Inclui a pasteurização (Pasteur rupi kaûĩ rerekó) e engarrafamento. Palavra composta de mondy (concluir) + kaba (fim).

Mopupura-sara - (etim. - mulheres que fervem o cauim em tupi antigo)(método ritauístico) - As responsáveis por ferver a massa de mandioca.

Nha'êpepó (s.)(método ritauístico)(etim. nha'êpepó, do tupi antigo – “panela de asa”), o nha'êpepó é um utensílio ancestral para aquecer água e caldos, assim como as modernas panelas de cosimento do cauim contemporâneo, descrito em fontes coloniais como Vasconcelos (Crônica, §140, p. 106) e no Vocabulário da Língua Brasílica (VLB, II, 63), designando uma espécie de panela ritualística utilizada pelos tupis na primeira etapa do preparo do cauim tradicional. 

Nha'êpepó é um utensílio ancestral para aquecer água e caldos, assim como as modernas panelas de cosimento do cauim contemporâneo

Seu nome evoca a imagem de um “prato com asas”, provavelmente devido às alças laterais características da peça, que facilitavam seu manuseio sobre o fogo. No contexto do preparo do cauim, o nha'êpepó desempenhava um papel sagrado e técnico, representando o ponto inicial da transformação da mandioca crua em bebida cerimonial. Após a fervura e a mastigação, a massa adoçada era inoculada com leveduras endógenas – presentes tanto no ambiente quanto nas próprias mãos e utensílios do preparo – e transferida para o kamusi, a talha de fermentação.

Nhenomun (ou nhemũ) (v. intr. compl. posp.) - cuspir, escarrar [em algo ou em alguém: compl. com esé (r, s)]: ... Sobá resé onhenomũ-nomuna ... - Em seu rosto ficando a cuspir. (Ar., Cat., 56v)

Pajuaru (s.) (bebida fermentada de mandioca sem mastigação)(método ritauístico) - Do tupi amazônico (uso regional por Tikuna, Wapixana e Macuxi),  Pajuaru é o nome dado à bebida fermentada tradicional feita a partir da mandioca, produzida por diversas etnias da Amazônia, como os Tikuna, Wapixana e Macuxi. Também chamada em algumas regiões de caxiri, a bebida se distingue do cauim por não utilizar a mastigação como forma de quebra do amido. 

No processo de produção da Tabalascada pajuaru, herança das etnias Wapixana e Macuxi, a mandioca é descascada (raspada) e passa por um processo chamado "cevar", arejando bem os grãos para evaporar o ácido cianídrico (o ácido evapora à temperatura ambiente, aproximadamente 26 °C). O forno é pré-aquecido e a massa é colocada e prensada perto do fundo, para fazer o beiju. O beiju é formado pelo aquecimento que faz com que as moléculas de amido se liguem, elas são recolhidas com pegadores de palha trançada (fig. 01)  e colocadas (fig. 02) em uma caixa de madeira com água (fig. 03).

Em seu preparo ancestral, a mandioca é descascada, raspada e submetida a um processo chamado “cevar”, em que os grãos são bem arejados para permitir a evaporação do ácido cianídrico (tóxico), que se dissipa naturalmente em temperatura ambiente. A massa é peneirada grosseiramente, preservando parte dos grânulos maiores, e depois levada ao forno para formar beijus — discos espessos onde o amido gelatiniza pelo calor. Diferente do cauim, os beijus do pajuaru são mais rústicos, com textura heterogênea. O diferencial tecnológico está na utilização da planta Periquiteira (Trema micrantha), cujos ramos são colocados sobre os beijus umedecidos. Cobertos e deixados em repouso por dois dias, os beijus entram em contato com as enzimas naturais da planta, que promovem a quebra do amido em açúcares fermentáveis — substituindo, assim, a ação da amilase salivar. 

Os beijus são bem grosseiros, com grãos pequenos e grandes misturados são colocados em uma caixa de madeira (fig. 01). Ramos de periquiteira (fig. 02) - Trema micrantha, planta da família Cannabaceae) são colocados sobre camadas de beiju umedecido, intercalados com mais um ramo e outra camada de beiju, de três a quatro partes. Tudo é finalmente coberto com um pano grosso ou plástico e deixado em repouso por dois dias. A periquiteira (Trema micrantha) é uma planta rica em enzimas que substituem a amilase presente na saliva humana, sendo um exemplo de tecnologia enzimática indígena não humana, rara entre os povos sul-americanos — mais comum em tradições asiáticas, como o uso do koji no Japão.

Após esse preparo, inicia-se a fermentação alcoólica, geralmente em panelas metálicas, resultando em uma bebida levemente ácida, alcoólica e de forte identidade cultural. Curiosidade botânica: A Periquiteira é uma planta da família das canabáceas, rica em enzimas, sendo um raro exemplo sul-americano de tecnologia enzimática não-humana — mais comum em culturas asiáticas como o uso de koji no Japão.

Sabẽ (veja intr.)  - bolor, usado para designar leveduras no geral. Tanto para Koji (麹),  o arroz no qual os esporos do fungo Aspergillus oryzae (koji-kin, 黄麹菌) foram cultivados (método Pagano), bem como para a alfa-amilase e demais enzimas usadas na indístri para promover a gelatinização do amido (método Sena). 

Sabẽoaẽ – coisabolorecida.

Sabẽ m'boapó (loc. v.) – “inoculação dos esporos" - Em Tupi Antigo, sabẽ mboapó é uma locução que pode ser compreendida como “colocar o sabẽ (mofo, fermento, essência sápida)”, ou mais tecnicamente, “inocular os esporos”, referindo-se ao momento em que o koji é polvilhado sobre o substrato — neste caso, pérolas ou beiju de mandioca (método Pagano).

No método japonês tradicional de produção de saquê, existe uma prática análoga chamada futa-kōji-hō (蓋麹法) — o "método do koji em bandejas". Neste método, o koji (Aspergillus oryzae) é espalhado (furu – 振る) sobre o arroz (kome – 米), utilizando peneiras. O termo “futa” (蓋), que significa "tampa", refere-se às bandejas empilháveis chamadas kōjibuta (麹蓋), que se cobrem umas às outras, regulando temperatura e umidade.

Na adaptação tupi desse conceito, o uso do termo sabẽ mboapó respeita tanto a função técnica do processo quanto a tentativa de preservar a integridade linguística tupi, sem recorrer a empréstimos externos desnecessários.

Sabẽ m'baraká (s.) (etim. maraká com esporos emt tupi)(método Pagano)  - O Sabẽ M'baraká é o nome dado ao recipiente ritual de aspersão de esporos de koji (麹菌 kōjikin) no processo de fermentação indígena nipotupi. Seu nome traduzido pode ser entendido como “o maracá dos esporos” ou “maracá que semeia sabor & vida”, unindo o simbolismo ancestral do maracá tupi com a função vital do koji na fermentação.

Inspirado por essa tradição, o Sabẽ M’baraká assume esse lugar sagrado no rito de inoculação do cauim com o koji. Ao aspergir os esporos, o fermentador atua como um sacerdote da vida, invocando a presença da deusa Mani através de cânticos, como forma de animar a matéria e despertar seu espírito interior.

Este gesto, profundamente simbólico, representa a união entre ciência, tradição e espiritualidade, e transforma o ato técnico da fermentação em um ritual de fertilidade, transformação e sacralidade da bebida.

Para polvilhar os esporos com o Sabẽ M'baraká, entoa-se uma canção ao ritmo da musica de enaltecimento à Mani, composta pelo Professor Ariel Oliveira:

Mani omanõ yby resé toîkó 
oré 'anga rembi'urãmamo.

Mandi'oka asé reté oîopóî; 
kaûĩ asé 'anga oîopóî.

Tradução

‘Mani morreu da vida terrena para virar alimento espiritual do nosso povo’

‘A mandioca alimenta o corpo 
e o Cauim alimenta o espírito’

Sabẽ mbeîu moe’ẽ (loc. v.) – (ou simplesemnte MOE'Ẽ) - o esporo torna o beiju sápido - Ação de espalhar esporos no beiju (ou pérolas), iniciando a sacarificação. Essa etapa corresponde à aplicação do koji kin e simboliza o início da transformação invisível. no método ancestral, as Kaûĩ apó-sara utilizavam para esse fim a amilase salivar, mastigando e cuspindo a mandioca 'Aîpi o- su'u su'u I nomu'Moe’ẽ refere-se à doçura revelada pela ação microbiana.

Sabẽ nonga (loc. v.) – polvilhar esporos - Literalmente “colocar o esporo”.
Momento técnico e espiritual. Usado também para expressar a bênção da vida invisível sobre o amido.

Sabẽ sy (s.) – Fermento-mãe; matriz da fermentação, shubo (酒母) - Em Tupi “a mãe do sabẽ”, isto é, a matriz viva da fermentação, em alusão direta ao papel do shubo (酒母) na produção do saquê. O sufixo sy, que significa “mãe”, indica origem, fonte ou matriz, conferindo à expressão um sentido ancestral e vital.

Na prática, sabẽ sy (método Pagano) nomeia o preparo inicial onde as primeiras leveduras e microrganismos fermentadores são cultivados de forma controlada, preparando o terreno para uma fermentação múltipla paralela.

Assim como o shubo japonês o cauim também depende de uma “batalha bacteriana” inicial para eliminar microrganismos indesejáveis e selecionar uma população robusta de leveduras puras, o conceito de sabẽ sy também pode abranger essa etapa de purificação simbólica e prática do meio fermentativo.

No método tradicional japonês kimoto-kei (生酛系), esse equilíbrio é obtido naturalmente com a ação de bactérias do ácido lático, antes da introdução das leveduras. Em analogia tupi, poderíamos pensar que a sabẽ sy exige um tempo sagrado de maturação e purificação, conduzido pela força invisível da natureza (karai etama, os espíritos fermentadores), antes que o cauim ou beiju fermentado esteja pronto.

Nota cultural: Na cosmologia tupi, tudo o que nasce tem uma mãe. Ao nomear o fermento inicial como sabẽ sy, reforça-se o caráter feminino, originário e sagrado da fermentação. O processo não é apenas técnico, mas simbólico: um ciclo de morte e renascimento, conduzido por microrganismos invisíveis que fazem parte do mundo (forças invisíveis).

Sabeypor (ou sabeypó) (v. int.) - ficar bêbado, embebedar-se: T'asabeypó! - Hei de embebedar-me; Eresabeyporype kaûĩ suí, 'ara mokanhema? - Ficaste bêbadode cauim, perdendo o juízo? 

Tarubá (s.) (método ritualístico), Da língua Sateré-Mawé*  — bebida fermentada feita exclusivamente de mandioca - Tarubá é o nome dado ao cauim na tradição do povo Sateré-Mawé. Trata-se da mesma bebida fermentada ancestral, preparada unicamente com mandioca denominada genericamente com "cauim". Como no território brasileiro, existem centenas de povos originários com línguas e cosmologias distintas, o cauim assume diversos nomes, métodos e ingredientes, refletindo a diversidade cultural do território. O tarubá, portanto, é uma das expressões do cauim, enraizada na língua, no ritual e na relação espiritual que os Sateré mantêm com a mandioca.

* A língua Sateré-Mawé integra o tronco lingüístico Tupi. Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática, ao que tudo indica, é tupi.

 T-y-pûera mopupu ra–sara (loc. v.) (etim. ferver a massa de mandioca) (método ritualístico) -  As fervedoras de caldo, chamadas de Mopupura-sara fervem a mistura até que o caldo atinja o estagio de quase ferver;

Tepiti (s.) - uma espécie de prensa ou espremedor de palha de palmeira jacitara (Desmoncus polyacanthos) trançada usado para usada para espremer, drenar e secar raízes, geralmente de mandioca. O objeto é utilizado principalmente por povos indígenas e ribeirinhos do Brasil, especialmente da região amazônica.  Seu uso é polivalente, pois além de prover o extrato básico para produção de farinha de mandioca , ainda extrai o sumo da mandioca, o tucupi. O resíduo final é chamado de manipuera.

Tepiti manual (fig. 1), trançado de palha de palmeira jacitara - Desmoncus polyacanthos (fig. 2), para espremer, drenar e secar raízes, geralmente de mandioca Manihot esculenta (fig. 3).

Existem basicamente dois tipos de tepitis: o tepiti de peso, um dispositivo bruto de madeirea, acionado com auxílio de pesos e o tepiti manual.


Tepiti pupé a’e t-y amĩ-î - (loc. v.) (etim. espremer a massa de a mandioca num tipiti) (método ritualístico) - o amido é separado do tucupi (soro que se desprende da massa) com o Tepiti.

T’îaka’ûne (s./v.) – vamos beber! Expressão final do ciclo do cauim.
Não apenas convite, mas celebração. Marca o fim do processo e início da comunhão. Encerra o ciclo dos sete (Pokõi) com festa.

Tykueryru (s.) - artefato ritual e sinalizador, simbólico e funcional usado na produção de cauim para indicar a idade da produção, como o sugidama japonês (杉玉), bem como o tempo de descanso em recipientes de madeira, chamdos de Ybyraygá (veja o processo de descnaso do cauim mokõĩ îasy erenoĩ Kaûĩ - Cauim repousado por 58 dias - periodo aproximado de duas luas). Normalmente pode ser pendurado na entrada da Kaûĩ apoha (fábrica de cauim), ou sobre a mesa de degustação. Adornado com ramos frescos de pitanga, jacarandá e outros que indicam a passagem do tempo por meio de sua mudança morfológica e secagem. Sua principal função é indicar visualmente o frescor da bebida: quanto mais verdes e viçosas as folhas, mais recente é o lote de cauim disponível. À medida que as folhas secam, o Tykueryru sinaliza o envelhecimento do produto, funcionando como um marcador natural do tempo de produção.

Utensílios utilizados com função direta e indireta para a produção de cauim no método ritualístico e Pagano - (Figura 1) - mbaraká, (figura 2) Ybyraygá de Paulownia tomentosa, conhecida no Japão como kiri (桐), Tykueryru (figura 3) - artefato ritual e sinalizador, simbólico e funcional utilizado nas primeiras produções de cauim para avisar aos vizinhos quando o cauim estava pronto. 

Além de seu aspecto prático, o Tykueryru carrega um forte valor simbólico, representando a conexão entre a natureza, o tempo e a tradição fermentativa indígena, e pode ser visto como um emblema da hospitalidade e do saber ancestral.

Tykyr (v. intr.) - gotejar, dividir-se em gotas: ... Îandé Îara rugûy bé tykyreme... i tyky-tykyra bé îabi'õ Îandé Îara Jesus Cristo rekóû ... ? - E ao dividir-se em gotas o sangue de Nosso Se nhor, em cada uma das gotas dele também está Nosso Senhor Jesus Cristo? (Bettendorff, Compêndio, 86) 

Tykyra (s.) TIQUIRA, (etim. do tupi antigo tykyr (gotejar) - Tykyra significa - água tenra) (s.) , em tupi antigo, "gota" ou "pingo" (Navarro, Dicionário de Tupi Antigo, p. 543). O termo descreve com precisão o processo de destilação, em que o líquido fermentado se transforma lentamente em álcool, escorrendo gota a gota. O conhecimento comum diz que os portugueses rejeitavam o cauim por ser sujo (devido à saliva das indígenas usada como recurso amilolítico da mandioca), mas, como a aguardente importada era cara e difícil de obter, eles aplicaram a técnica de destilação ao cauim de mandioca, dando origem à tiquira. Foi esse o princípio que inspirou a criação da tiquira, um destilado de mandioca produzido no Brasil desde o período colonial. Os registros históricos mais antigos da tiquira datam de 1855, no Maranhão, mas seu nome carrega vestígios muito mais profundos.

U'imogûapaba ( etim. - instrumento de joeirar farinha) (s.) - peneira (VLE, II, 72)


Urupema (s.) - URUPEMA, URUPEMBA, GURUPEMA ou JURUPEMA, espécie de peneira com que os indigenas coavam mandioca, também utilizada para outros fins culinários (Marc grave, Hist. Nat. Bras., 67); joeira (VLB, II, 14) • urupernusu - var. de peneira (VLB, 1, 74); urupẽ-mby'i - var. de peneira (VLB, I, 86; II, 14); urupẽ-mokanga -peneira rala (VLB, II, 14) - NOTA: URUPEMA também passou a designar, no P.B., vedação de teto, paredes, janelas etc., feita com esteiro semelhante à urupema: " ... as balas dos assaltantes já sibilavam pelas URUPEMAS do sorado de João da Cunha." (Franklin Távora - O Matuto, apud Novo Dicion. Aurélio).

Ungûá pupé o-îo sok (loc. v.) (etim. macerar a mandioca no pilão)
Em seguida, colocam os talos de mandioca cortados no Ungûá (pilão indígena) e os socam por algumas horas.

Y nonga (loc. v.) – corte com água - Equilibrar a graduação alcoólica.
Água é mistério e medida. Y nonga é o gesto que humaniza o cauim, evitando o excesso e respeitando o paladar e a força da bebida.

Yakupa (s.) (método tradicional) – cauim diário dos Yudjá - do tupi* yakoha (fermentado + puba), Yakupa é o nome dado ao cauim cotidiano dos Yudjá, povo de língua tupi que vive no Xingu. É uma bebida fermentada leve, feita da puba seca de mandioca, consumida diariamente como fonte principal de nutrição e hidratação. Ao lado de outras bebidas fermentadas chamadas yakoha, o yakupa integra o grupo dos cauins “refrescantes”, preparados em pequenas quantidades (20 a 60 litros), e prontos para o consumo logo após o preparo — ainda doces —, mas que fermentam levemente ao longo dos dias. Já os yakoha propriamente ditos (ou embriagantes) incluem:1- Dubia – base de cauim de puba fresca de mandioca; 2-T'aka – dubia com mingau de mandioca brava (wawaru); 3- Pawi – dubia misturado a cauim de milho seco altamente alcoólico, com figuras rituais de massa; 4- Kat'upa – cauim de receita perdida; 5- Awawia – fermentado com milho seco, hoje raramente visto.

Mulher Yudjá prepara cauim na aldeia Tubatuba. Os Yudjá são o povo com a maior variedade e tipos de 'cauim'. Na ilustração, vemos que o cauim é mais branco e uniforme, e a canoa de fermentação possui alças para transporte. 

A versão cerimonial da yakoha, chamada maritya, é produzida em grande escala, ultrapassando 400 litros, e consumida em festas coletivas. Nessas ocasiões, o cauim é fermentado em grandes canoas rasas, favorecendo a ação das leveduras nativas.Mesmo fora das festividades, o cauim, e sobretudo o yakupa, é parte fundamental da dieta e vida social dos Yudjá, que preferem beber suas bebidas fermentadas a consumir água pura. Assim, beber cauim é também “viver”.

* Os Yudjá falam uma língua do tronco tupi classificada na família linguística Juruna, que também incluía as línguas já extintas dos povos Arupaia, Xipaia, Peapaia e Aoku (não-identificado), além dos Maritsawá.

Ybyraygá (s.) – cabaça ou recipiente de madeira, vaso de madeira utilizado para breve envelhecimento (veja verbete abaixo).

Utensílios utilizados com função direta e indireta para a produção de cauim no método ritualístico e Pagano - (Figura 1) - mbaraká, (figura 2) Ybyraygá de Paulownia tomentosa, conhecida no Japão como kiri (桐), Tykueryru (figura 3) - artefato ritual e sinalizador, simbólico e funcional utilizado nas primeiras produções de cauim para avisar aos vizinhos quando o cauim estava pronto. 

Ybyraygá pupé kaûĩ mbo'y'mûana (loc. v.)(etim. tornar o cauim antigo no recipiente) - Refere-se à prática de maturação do cauim em madeira com o objetivo de conferir maior profundidade e complexidade à bebida.

No entanto, é importante destacar que, por se tratar de uma bebida fermentada de baixa graduação alcoólica — diferentemente da tiquira, que é destilada a partir da mandioca — o cauim não suporta longos períodos de envelhecimento como ocorre com bebidas de teor mais elevado, como cachaça ou uísque.

Durante nossas experimentações, testamos breves exposições do cauim à madeira de Paulownia tomentosa, conhecida no Japão como kiri (桐), a mesma madeira utilizada tradicionalmente na confecção de masu, pequenos recipientes para servir saquê. Assim como esses masus influenciam sutilmente a experiência sensorial da bebida japonesa, a exposição do cauim ao kiri revelou alterações delicadas em seu perfil aromático, oferecendo nuances amadeiradas e ampliando sua complexidade de forma sutil e respeitosa à sua natureza efêmera e viva.

Essa abordagem não busca copiar o envelhecimento convencional, mas sim evocar um refinamento simbólico — uma maturação breve, sensorial e ritual, em harmonia com os ciclos naturais da bebida indígena.

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Poema da São José Anchieta sobre o Cauim

Ao mesmo tempo em que o Padre São José de Anchieta buscava catequizar os indígenas de São Paulo, ele também admirava a cultura local. Um bom exemplo disso é o retrato que ele fez por meio de um poema, no qual podemos ter uma ideia de como era a imagem dos bebedores de cauim tupis daquela época.Esse poema é, portanto, um testemunho do embate simbólico entre dois mundos. Ao mesmo tempo em que celebra o cauim, revela também uma tentativa de compreender e dialogar com os tupis em sua própria língua e lógica cultural.

Xe rekó iporangeté, Naipotári abá seytýka, naipotári abá imombýka. Aipotakatú teñé opabi tába mondýka.
(tradução : meu modo de viver é agradável, não quero que seja constrangido nem abolido, pretendo alvoroçar todas as tabas - aldeias) 

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Mbaé eté kaú guasú kaûĩ mojebyjebýra. Aipó sausukatupýra. Aipó añé jamombeú, aipó imomorangimbýra!
(Boa coisa é beber o cauim até vomitar, isso é apreciadíssimo, isso se recomenda, isso é admirável!) 

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Serapoň ko mosakára ikauinguasúbae. kaûĩ mboapyareté, aé maramofiangára, marána potá memé.
(São aqui conceituados os "maçacaras" ou  "mosakara" [são homens importantes da aldeia, ou homem branco nobre] beberrões. quem bebe até que o cauim se esgote, esse é valente, esse é ávido por luta).


Glossário Tupi - Português para Produção de Cauim Contemporâneo

Este glossário foi criado para apoiar quem deseja compreender e praticar a produção tradicional de cauim a partir de uma perspectiva tupi, c...