O Tupi Pop

A corrente artística de Luiz Pagano - Tupi Pop - busca ir além das aparências superficiais e trazer à tona a essência de nossa diversidade cultural e étnica, já levou às ruas de Curitiba o evento Capivara Parade, mostrando a importância das boas relações entre os centros urbanos e a natureza, e gerando recursos para a campanha do agasalho local; o Projeto Tembiu trouxe mais de 120 insumos da floresta Amazônica para a comunidade de Coquetelaria no ano de 2014, ao Lado dos Chefes Tiago e Felipe Castanho; e por meio do Dia do Anhangá, trás agora a ambiciosa proposta de integrar todas as etnias e culturas pertencentes ao vasto território brasileiro. “A data de 17 de julho foi muito bem escolhida não só pela associação com a proteção da natureza, más também com a proximidade da data de um outro evento de amor e paz ente europeus e brasileiros – 30 de julho 1524 data do casamento de Diogo Álvares Correa Caramuru e Paraguaçu na lendária Catedral de de Saint Malo. Eu, brasileiro da Aldeia do Inhapuambuçu, que ainda moro próximo ao triangulo histórico, neto de Zuzu Correa de Moraes que nasceu no casarão da Rua da Gloria N.º4, onde hoje fica o respiro do metrô Liberdade, no coração do Inhapuambuçú, propnho um suspiro de liberdade, amor e união. É imprescindível ressaltar que a união e aproximação das diferenças não significa ignorar ou minimizar o sofrimento vivido pelos povos indígenas diante do colonizador, que cometeu crimes como genocídio, tortura e obliteração da cultura originária por meio da catequese, entre vários outros crimes indizíveis. A idéia aqui é o início de um diálogo respeitoso e inclusivo, em que suas vozes sejam ouvidas e suas demandas atendidas. Ao organizar seu evento indígena em São Paulo, o que mais levei em consideração foi a importância de criar um espaço seguro e acolhedor para que os povos indígenas possam compartilhar suas histórias, expressar suas culturas e se fortalecerem enquanto comunidades. Somente através do reconhecimento de suas lutas passadas e presentes, poderemos construir uma sociedade mais justa e equitativa para todos. Foi no triásico que o Inhapuambuçú fez unir das vertentes os rios Tamanduateí e Anhangabaú, foi a quase 500 anos o Inhapuambuçú fez unir João Ramalho e Potyra e será aqui, no Inhapaumbuçú que os povos brasileiros aprenderão a se respeitar e a viver em paz e harmonia. Devo dizer ainda que me orgulho do sobrenome Correa de minha família, a mera possibilidade de ser descendente de Caramuru e Paraguaçu me enchem de orgulho”. Luiz Pagano – Outubro de 2019

terça-feira, 30 de junho de 2020

Movimento Py'araku

Movimento Py'Aruku - plataforma Angatú
Uma das coisas que mais gosto quando interajo com Japoneses, é a forma que se admiram quando expostos a coisas novas, logo surge uma longa expressão surpresa na face, seguido por um também longo “Ehhh”.

Durante o período Heian no Japão (794 a 1185 d.C.), os chineses que visitavam o país, viviam criticando tudo por lá, diziam que eram um povo indígena, atrasado e incivilizado. As criticas constantes fizeram com que os Japoneses se apropriassem de diversos traços da cultura chinesa. Foi durante essa época que o termo ‘Mono no aware’ (物の哀れ) foi copiosamente usado num dos mais antigos trabalhos literários japoneses, o Genji monogatari, e os japoneses experimentaram o surgimento de uma nova cultura.

read this article in English

A frase ‘Mono no aware’ é derivada da palavra japonesa mono (物), "coisa", e aware (哀れ), uma expressão de surpresa comumente usada no período Heian, semelhante ao "ah" ou "oh", traduzindo a grosso modo como "pugência", "sentimento profundo", "sensibilidade", ou "consciência". Poderia ser traduzido como o ‘ahh' das coisas, a vida das coisas, o seu deus interior.

Essa incorporação surgiu em seus corações como um Deus organizador, de grande beleza, que cresceu no meio de suas melhores essências e até hoje, poucas culturas sabem tão bem se apropriar de benefícios de outras culturas, sem perder sua própria essência como os japoneses.
Benguela 12

É com esse intuito que eu apresento aqui o movimento Py'araku, mais do que uma filosofia de vida, é um manifesto cultural e artístico brasileiro, que surgiu das conjecturas de uma matéria publicada no blog em dezembro de 2012, com a pergunta “o que teria acontecido se a cultura dos indígenas brasileiros tivesse sobressaído à dos portugueses no Brasil".

Desde então, venho refletindo diariamente no que fazer para que os bons elementos cultura indígena brasileira, bem como a cultura negra e portuguesa, com potencial de melhora, e como estes poderiam ser submetidos ao frame da cultura japonesa (ambas de ancestrais indígenas comuns) o Cauim, tal como o saquê - a bebida surge como o grande catalisador - o Cauim é sem duvida a mola propulsora desse movimento. O Cauim tem tantas similaridades com o saquê que vão muito além da coincidência,  haja visto a travessia de povos antigos pelo estréio de Bering - a bebida alcoólica ao meu ver, é junto com a gastronomia, o principal veículo de manifestação cultural de um povo.

Se quisermos um Brasil melhor, devemos sim nos concentrar nossos esforços em modificar pontos negativos, que são muitos, mas principalmente  dar ênfase nos pontos positivos, que também são muitos. O Blog ‘Ame o Brasil’, trabalha ativamente a plataforma de ativações denominada Angatú (literalmente, de alma boa, com bem estar, com felicidade), que tem como propósito despertar o amor ao Brasil e ao brasileiro, valorizando e incentivando os bons estímulos, de maneira a fazer-nos crescer e superar os maus estímulos, até sua virtual extinção.

Se quisermos que funcione, é preciso termos consciência de longo prazo e é fundamental que tenhamos uma postura ‘pro’ algo, nunca ‘contra’ - uma vez perguntada por que não participava de manifestações anti-guerra, Madre Teresa de Calcutá disse que nunca faria isso, ela somente entraria em um movimento pró-paz, é uma posição de lógica inquestionável - enquanto o movimento ‘anti-alguma coisa’ se caracteriza pela resistência a forças naturais, uma estratégia passiva que depende de empenho em proteção, que por melhor que sejam, sempre oferecem o risco de serem derrotadas, o movimento ‘pro-uma causa boa’, por sua vez, é uma estratégia proativa com intuito de promover uma boa idéia, ampliando o potencial de sucesso a níveis estatisticamente muito maiores.
Moçmbique 25

Desde que iniciei esse blog, trabalhei em ativações de limitados alcances, mas de grandes intenções. Com ‘Projeto Tembi-u’, realizado em abril de 2015, fomos pioneiros em levarmos ingredientes da Amazônia para que premiados barmans brasileiros criassem drinks, explorando o vasto universo de inusitados ingredientes Brasileiros por excelência em detrimento da valorização excessiva da coquetelaria Americana/Européia. Em maio de 2016, promovemos o primeiro ‘Capivara Parade’, nos moldes da Cow Parade de Pascal Knapp, em parceria com o Shopping Paladium, com o propósito de usar a capivara como um embaixador da natureza em ambiente urbano, para angariar recursos para a campanha do agasalho de Curitiba, e o lançamento da HQ os Heróis da Buzundanga, trazendo a cultura Tupi-Pop em sua essência – o caminho lógico desses trabalhos em série nos leva ao lançamento do Movimento Py’araku para o ano de 2017.

Py’araku tem o propósito de fazer crescer no coração de cada individuo que ama o Brasil, seja ele nativo ou estrangeiro, um entusiasmado agente de transformação, multiplicador de boas praticas, que o capacita a ser um embaixador de um Brasil melhor. A palavra do tupi antigo, tem significado parecido com o ‘Mono no aware’ do revolucionário período Heian no Japão.  Em tupi, apalavra Py’araku (Py, amplo + Araku, entusiasmo), significa literalmente, fazer crescer nosso Deus interior, de alma quente, de coração aquecido - palavra essa que traz para nossos corações e mentes a força divina, que tem o poder engrandecer nossa nação através do amor. Mesmo a palavra da língua portuguesa ‘entusiasmo’, que vem do grego, ἐνθουσιασμός (onde ἐν - interior e θεός – Deus e οὐσία –possuído), traz em sua essência o poder de promover a possessão pelo divino, "possuído pela (essência de) um Deus.

Tenho mais de 20 anos de experiência com a introdução de novos produtos no mercado, sou especialista em ‘aculturação’, um complexo processo desenhado para incorporar um determinado produto a uma cultura, no qual o produto é estudado em profundidade, com seus hábitos de consumo e então, ensinados à essa nova cultura, a ponto de atingir total incorporação fora de seu local de origem, a ponto de integrar-se plenamente a cultura local;
Cunhanbebe 10

“Para se ter o Brasil ideal, a ‘aculturação’ deve andar par e passo com nossos esforços pela ‘enculturação’, processo de auto-conhecimento, no qual entendemos quais são as nossas próprias boas praticas, as estudamos à exaustão e ai então, incentivos para que se tornem pratica comum em nossa sociedade.

Se podemos fazer isso com vinhos, alimentos e equipamentos estrangeiros no Brasil, por que não fazer o mesmo com atitudes nativas prosperas, trazendo as melhores praticas de condutas sociais para mudarmos nosso Brasil”.

Lendária Civilização Ancestral Hi-Tech Nipo-Brasileira na Amazonia

Quando era pequeno, ouvi por algumas vezes uma lenda que dizia existir uma cultura muito avançada escondida no meio da Floresta Amazônica, tipo a Wakanda do Pantera Negra, que foi erguida em torno da sabedoria e magia de uma mulher Japonesa muito bonita e inteligente, essa lenda me assombrou por muito tempo, eu até cheguei a desenhá-la em meu caderno dos primeiro anos de escola, lembro que quando fiz o tal desenho em meu caderno, meu pai assistia um jogo da copa, (possivelmente a copa de 1974), e todo ano que tem jogos do Brasil na copa, eu me lembro dessa mulher e da estória toda.

read this article in English
A esquerda, desenho que fiz de Teruko Sato quando eu era criança, a direita, o desenho que fiz no dia da vitoria do Brasil sobre o México - dia de grande felicidade do povo Brasileiro

 Não sei ao certo como tudo isso começou, como eu morava numa casa junto com mais de quatro tios-avós, todos irmãos da minha avó paterna, nunca descobri quem exatamente havia contado a tal história, bem como se era verdadeira ou não. Fato é que foi desse ponto em diante que eu talvez tenha me interessado tanto pela cultura Japonesa e acreditado que se usássemos elementos nipônicos, talvez tivéssemos a chance de termos um Brasil melhor.

 Agora, como é época de jogos do Brasil na copa, resolvi botar um fim no mistério e passei a investigar a tal sabia nipônica na Amazônia - devo dizer que foi frustrante, ninguém sabia de sua existência, nem mesmo o Google.

 Variei minha pesquisa um pouco, pois talvez o tal incidente tenha algo a ver com a Copa do Mundo de Futebol. A única coisa que encontrei foi a incrível historia da morte de Chico Xavier, com conta Eurípedes Higino, seu filho adotivo “Chico Xavier sempre dizia que iria desencarnar (morrer / do ponto de vista Espírita) no dia em que o Brasil estivesse em festa e que eu não iria ter tempo de pensar na morte dele”. Foi exatamente isso que aconteceu, Chico “desencarnou” no exato dia em que o Brasil estava na festa da conquista do pentacampeonato, no dia 30 de junho de 2002.

 Bom, mas o que isso tem a ver com a japonesa da Amazônia?

 De fato eu não sei, mas gosto da idéia de ver o Brasil, como uma massa uniforme de mentes em um único espírito, feliz.

 Se olharmos para essa multidão de brasileiros felizes do ponto de vista espírita kardecista, isso parece ser uma boa energia de grande volume – e foi com esse pensamento, resolvi tomar uma passe num centro espírita, exatamente nessa época do ano, (na minha cabeça, isso faria eu receber uma enorme carga vibratória do bem) – é ai que entra a grande coincidência!!!

 Como não tinha nenhum centro espírita perto de onde eu estava trabalhando e o jogo do Brasil logo iria começar, resolvi parar no Johrei Center da Vila Mariana, enquanto aguardava o passe, ou melhor, o Johrei, eu ouvi alguns ministros conversando sobre uma tal de Teruko Sato, a primeira mulher a trazer a cultura do iluminado Meishu-Sama para o Brasil.

 Nessa hora eu cheguei até a me arrepiar com tamanha coincidência, mas o mais legal ainda estava por vir. Meishu-Sama acredita na construção de paraísos terrestres, jardins lindos e inspiradores que aumentam o bem estar e energia espiritual da humanidade – com isso, o local escolhido para ela iniciar seus trabalhos, pasmem! Foi em uma cidade chamada de Manacapuru no meio da floresta amazônica.

Nessa hora eu interrompi os ministros e estudantes que conversavam entre si e logo contei-lhes sobre a lenda que ouvira, sobre a civilização secreta na Amazônica e a tamanha coincidência, “não existe essa coisa de coincidência’”, disse o rapaz, “tal qual no espiritismo, acreditamos que todo esse acontecimento já havia sido arquitetado em planos mais evoluídos, tal como aconteceu com a passagem de Chico Xavier”.

 Ai então ele sorriu e me decepcionou um pouco ao dizer que a igreja Messiânica não possuía nenhuma nação tipo a Wakanda no meio da Amazônia”, no entanto, Mokiti Okada (岡田茂吉), fundador da igreja, que carrega o título honorífico de Meishu-Sama - 明主様, (Senhor da Luz), idealizou sim uma sociedade mais evoluída, que constroi Solos Sagrados ao redor do mundo - lugares lindos, com arquitetura, tecnologia limpa e grande grau de desenvolvimento e harmonia com meio ambiente, como se fossem ilhas de felicidade e elegância em meio ao caos do planeta.  A Fundação Mokiti Okada desenvolve pesquisas na agricultura, recuperação do meio ambiente, agricultura individual saudável e acessível, saúde e educação e também engloba a escola de Ikebana Sanguetsu que ensina os princípios pragmáticos da filosofia de Mokiti Okada através da arte milenar do arranjo floral.

 Para mim, Teruko Sato (佐藤輝子 que adotou o nome de casada de Yoniyama 米山) é uma lenda viva, as poucas informações que tive quando criança me fizeram criar uma historia fantástica, com miscigenações de etnias brasileiras e japonesas, com tecnologia extraordinária e sustentável, de primeiro mundo, que bem poderia ter sido verdadeira, mas a Teruko Sato da vida real, que também é muito pouco conhecida pelos próprios devotos da IMM, tem atributos que superam a fantasia.

Numa matéria da revista Izunome numero 72 de 2007, escrita em japonês, a historia de Sato foi revelada - a seguir coloco o texto original em japonês e minha tradução - por favor, fiquem a vontade para me corrigirem em eventuais erros de tradução.

南米開拓布教事始め

開移民として新たな人生の船出

前編

私は、瀬戸内海に面した岡山県南部にある小さな町で昭和十一年二月四日に生を享けました。
昭和ニ十年半ば頃、世間で呼ばれていました。その「おひかりさん」と呼ばれていました。その出張所がちょうど私の実家のすぐ向かいにあり、信者さん家族が住んでおりました。その家には、私より一つ年上の友達がおり、よく遊んだり勉強したりと仲良しでした。病弱だった私の母は、真っ先にそこで浄霊を受け始めました。
そして「おひかりさんの先生が知らん話をしてくれる」とその友達が冒うので、私も話を聞きに行くようになりました。
毎月1回ほど岡山から出向される瑞雲教会長の山根幸一先生は、霊界のこと、先祖様のことなど、学校では習わないことをたくさんと教えてくださり、やがて、母に次いで昭和二十七年に私も入信に至りました。

運命の決別

明主様から米国開拓布教を命ぜられた樋口喜代子先生、安食晴彦先生がハワイや米国本土で輝かしい成果をあげられていた昭和二十九年頃は、私の教会でもいつもその話で持ちきりで、月次祭でも山根先生は海外布教ー歩を印された樋口先生の業績を讃えられて

いました。私も知らず知らずのうちに、〃樋口先生のように外国に出て布教したい〃という淡い思いを抱いていました。ちょうどその頃、父からブラジル開拓移民が募集されていること、そして一家で移住する予定であることを聞かされたのです。そのことを山根先生に話すと、先生はすぐ明主様にお尋ねくださいました。すると、明主様即座に「御神体と、「おひかり」を持たせて行かせなさい」とおっしゃったのです。先生はすぐ明主様のその御言葉を租に伝えてくださり、私のブラジル行きが確定したのでした。
しかし、移民手続きの過程で、母が眼の病の治療のため、出発が勢カ月遅れるという事態が発生しました。しかし、父の友人の家族が、f現地で一人でも多くの衛き手が欲しいとのことで、私はその家族の一員として自分の家族よりー船早くブラジルルへ渡ることになったのです。
それが、家族との長い別れになろうとは、神様しか御存知なかったのです。

御光と希望を胸に

昭和二十九年九月二十五日、弱冠十八歳の私は神戸港より大阪商船「アメリカ丸」に乗って、地球の反対側のブラジルへと旅立ちました。明主様のお役に立ちたいという熱い思
いでいっぱいで、父母と別れて淋しいとか、こわいとか、ー人でどうとかいう悲観的な考えは一切浮かんできませんでした 。しかし、船の上から見えるのは毎日海だけ、激しい船酔いのため数日間梅干しとお粥のみで過ごしたこともありました。途中米国ロサンゼルスに寄港して燃料食糧その他を補紿し、南米へ向けて出航。パナマ運河を抜け、一路大西洋へと向かいます。
いよいよ赤道下ブラジル北東部パラ州ベレン港に到着しました。そこで私達ブラジルの船に乗り換え、さらにアマゾン川を上っていきました。

そして、日本を出て実に二カ月ぶりに、アマゾン川河口から千四百キロのところにある目的地、アマゾナス州マナカプル|郡べラ・ビスタ植民地に到着したのです。
配耕される土地へは、そこからさらに半日程歩いて行かなければなりませんでした。着いた所は人がようやく歩けるほどの原生林に覆われたところでした。道の両側には、先に入った十数家族の入植者達の住まいである、伐採した原生林を無造作に組み上げた丸木小屋が数百メ|トルおきにー軒ずつあり、さらにその奥に私達に配耕される土地がありました。家も水も電気も生活必需品は何一つなく、岡山県庁の広報とはまったく逆の現実でした。
さっそく男の人達はジャングルの木々を伐探して小屋造りに追われました。女の人達は食事を作るのに必要なものを集めたり、水をる汲みに行ったり、土を捏ねて釜戸を造ったりという生活から始まりました。熟蒂特有の風土から、小虫や蚊がたくさんいて、昼夜を問わるず、ところかまわず刺されます。
数カ月分の食糧は船を降りたところにある小さな村の売店に預けてあり、一週間分ずつを歩いて取りに行きました。大きな袋を持って一往復するのにー日がかりです。女も子供もみな汗だくになりながら働きました。手には水豆ができて破れ、その上に手ぬぐいを捲いて痛さをこらえながら働きました。夜になると原生林の丸木を並べた上に寝ました。いろんな動物の鳴き声が聞こえ主す。夜通し焚火は絶やせません。
いつどんな動物が出てくるか分からず、緊張の毎日が続きました。

失意のどん底からの脱出

そんな生活の中、みんなが寝静まった夜、私は一人蚊帳の中から星空を見上げ、 "どうしてこんな所に来てしまったのだろう......。

明主様のお役に立とうとやって来たブラジルがこんな原生林の山奥。家も電気も水もない原始的な生活。明主様はもう私を見離されたのかしら。なぜこんなつらい思いを、苦労をさせられるのかしら。
このお月様、お父さん、お母さんは見ているかしら。どうして私ー人で来てしまったのかしら。明主様はこんなところと御存知なかったのかしら……“なと思い巡らしては毎日のように泣いていまた。
しかし、”こんなことばかりしていてはいけない。せめて入植者達に御浄霊を広めねは"と思い直し、風邪を引いた人、皮膚に湿疹のできた人に浄霊の話をしてみることにしました。ところが誰も受けつけてくれませしまいには「手をかざして病気が治るわけがない。
あの娘は親から離れてー人で来もて、もう頭がどうかしているのだ」などと噂されるようになりました。そして、その周囲の視線の冷たさに耐えきれなくなった私は、"もう宗教のことも浄霊の話も口にすまい"と決め、ひたすら働き始めました。
また私はー緒にブラジルに来た家族と別れ、独り立ちすることを決意しました。人の手が足りない家は、私を容易に住み込みで雇ってくれます。あちこち他人の家で草取りをしたり、寄せ焼きをしたり、さつま芋を土手に植えたり、毎曰毎曰働きました。そして、私は考えました。"こんな不便な山奥にもし私の母が来たら病に倒れるかも知れない。鍬ー鍬本握ったことのない町育ちの幼い弟、妹達はこんな過酷な労働には耐えられない。
こんな所に来たら一家は破滅だ。私は意を決して日本の父母に「もうブラジルには来たい方がいい、こんな苦労は私ー人でたくさん、来てはいけない」と手紙に書きました。
何ヵ月か経って母からの手紙が届きました。手紙が無事に日本に届き、無事返事が来ることさえ。ここでの生活では奇跡に近い出来事でした。急いで封を開けてみると、そこには私の身を案じる父母の気持ちと共に、思いもかけない事実が認めてありました。

明主様の御昇天の知らせでした。私は立っていられない程のショックで涙も出ませんでした。しかし、"必ず明主様は霊界から見守ってくださっている。私を見ていてくださる。
泣いたら明主様が悲しまれる"と、思い直しましたが、それでも心の整理がつくまでに二、三日を要しました。

Manacapurú - a 99,8km de Manaus no estado do Amazonas
A esquerda  a Senhora Yoneyama (Teruko Sato com nome de casada) e a direita
Michiko Yamande, lider da ireja Zuiun - maio de 1953
瑞雲教会奉仕の頃の米山さん(左)と故・山根道子教会長夫人(昭和28年5月)

運命の転機

ある日、真っ黒になって働いていた私に、「人が欲しい、来てくれないか」と、内藤さんという方が尋ねて来たのです。私は恩い切ってその方とー-緒に、私を雇ってくださるという方がいる、アマゾナス州バレンチンスに近いイタコアチャラ郡のモンテ・レアルに行くことにしました。
内藤さんに連れられて、再び船の旅です。私は、御神体と御尊影、そして「おひかり」十体に数枚の着替えを持ち、ベラ・ビスタを後にしました。着いたところは、御園さんという方が経営する食料雑貨店でした。
私はこの店で、昼間働きながら、夜はランブの明かりを頼りにポルトガル語を勉強しました。初めは、原地住民との挨拶から日常のこと料理のこと、見るもの、聞くものすべて、日本と違った生活習慣でした。
しかし、それまでの植民地生活からすると、天と地の違いがありました。脚園さん鐔夫妻は、私を娘のように扱ってくださいました。仕事も覚え、言葉も片言でしたが何とか話が通じるようになりました。
心機一転、私は与えられた新しい環境の中で何とか布教しうと思い、つたない言葉で浄霊の話をしてみることにしました。
何日も何回も話すうち、私があまりに一生懸命言うので頭をかしげながらも話を聞いてくれる人が出始めました。もちろん、浄霊の意味などをしっかりと説明するまでには至りませんでしたが、徐々に浄霊のぉ取次ぎが次々とできるようになです。

日本からの使節団

ある日、母から再び便りが届きました。手紙には、「明主様御昇天後、小田信彦先生という方がブラジル布教のためクリチーバに行とれたので、その先生と一緒に布教したらどうか」との、山根先生からの言付けが書いてありました。

ルイズ・パガノで翻訳

-------

Primeira missão na América do Sul, o começo de uma nova vida como imigrante
Tradução da primeira parte


Nasci em uma pequena cidade ao sul de Okayama, em 4/2/1936 (Showa/昭和 - 11 é o ano de 1936). Em meados de 1945, numa época em que a Igreja Messiânica e seus membros tinham o apelido de “Ohikari-san”. Existia em frente a minha casa uma família de fieis da Igreja Messiânica, como minha mãe estava doente, eles vinham em casa aplicar o Johrei nela, em 1952, nós nos tornamos membros. Mensalmente, o ministro responsável da Igreja dava palestras nas quais falava sobre o Mundo Espiritual e os antepassados, o tipo de coisa que não se aprende na escola, foi quando atingi a maioridade.

Rumo a partida

Já nos anos de 1945 o ministro dessa unidade religiosa nos contava os relados dos missionários Yamane os relatos da ministra Kiyoko Higuti e Haruhiko Ajiki no Havaí e nos Estados Unidos. Ouvindo essas estórias, aos poucos, passei a cultivar o desejo de dedicar-me à difusão desses ensinamentos no exterior, a exemplo da ministra Higuti. Nessa época, soube que minha família planejava imigrar para o Brasil.

Ciente desta possibilidade, o ministro Yamane fez um pedido ao Meishu-Sama, que imediatamente disse: “Entregue-lhe a imagem de Deus e o Ohikari para que ela leve consigo”. Diante desta resposta de Meishu-Sama, minha certeza de ida ao Brasil se fortaleceu ainda mais. Contudo, durante o processo de pedido de imigração, minha mãe foi acometida de um problema de visão que atrasou a nossa partida.

Como uma família conhecida queria migrar para o Brasil e necessitava aumentar o número de pessoas para o trabalho, optei por embarcar antes de meus familiares. Só Deus sabia na época que a separação de minha família seria mais longa do que tinha imaginado...

Luz e esperança em meu coração

No dia 25 de setembro de 1954(Showa/昭和 - 29), aos 18 anos, eu embarquei no navio America Maru que partiu do porto de Kobe,  deixei o Japão em direção ao Brasil levando comigo o forte desejo de servir a Meishu-Sama.

Em momento algum fiquei pessimista, senti medo ou tristeza por partir sozinha. Durante a viagem, o tempo que passei em alto-mar não foi fácil, durante longos dias, tive que comer umeboshi (梅干し - ameixa chinesa em conserva) e Kayu (お粥 também chamada de congee, é uma sopa de arroz cozida com carne) diariamente por causa dos enjôos causados pela viagem marítima. Após uma pausa em Los Angeles para abastecimento de combustível e mantimentos, cruzamos o canal do Panamá, tendo chegado ao norte do Brasil, no porto de Belém. Fomos transferidos para um navio brasileiro e subimos o rio Amazonas. Desde que deixara o Japão, dois meses haviam se passado. Chegamos à colônia de Bela Vista, localizada no estado do Amazonas, distrito de Manacapuru, após uma viagem de 1.400 km. Até chegarmos à fazenda, foi necessário andar cerca de meio dia. O local ficava no meio da floresta, de ambos os lados da torpe estrada moravam algumas famílias de colonos que lá procuravam se estabelecer. Não havia moradia, água, energia elétrica ou instalações necessárias à vida cotidiana, a realidade lá era muito diferente da que eu tinha em Okayama.

Imediatamente, os homens puseram-se a derrubar árvores para construir assentamentos, e as mulheres se dedicavam a preparar a alimentação. Devido ao clima tropical, éramos picados por insetos e mosquitos dia e noite. Enfrentamos muitos desafios nesta época de adaptação. Mantimentos chegavam regularmente numa lojinha, localizada numa aldeia que só podia ser acessada de barco, levávamos um dia para transportar tudo em enormes sacolas, as mulheres e crianças trabalhavam e estavam sempre suadas, bolhas se formavam nas mão e estouravam, colocávamos toalhas para mitigar a dor, a noite dormíamos em meio os troncos, ouvíamos vários ruídos de animais, era imprescindível que a fogueira jamais se apagasse durante a noite, não sabíamos quando e por qual animal poderíamos ser atacados, vivíamos em dias de medo e tensão inesgotáveis.

習志野浄霊センター - 米山晃子Narashino Johrey Center - Akiko Yoneyama - Teruko Sato

Me afastando da depressão profunda

Em meio a esta dura realidade, à noite, enquanto todos dormiam, costumava olhar as estrelas através das redes de mosquitos e a chorar me perguntando: “O que vim fazer neste lugar?”... Queria servir a Meishu Sama e vim para o meio da floresta, viver uma vida primitiva, sem luz e nem água. Será que Meishu Sama me abandonou? Por que preciso passar por tanto sofrimento? Será que meus pais estão olhando para essas mesmas estrelas? Por que acabei vindo, sozinha? Será que Meishu Sama sabe de mim aqui?

Por outro lado, pensava em minha missão. “Talves eu possa ministrar Johrei nos colonos...” Passei a ministrar Johrei em quem estivesse gripado ou com eczemas. Contudo, eles não acreditavam que eu pudesse curar as doenças, simplesmente empostando as mãos.

A filha da família com quem convivia chegou a dizer que eu tinha problemas mentais, ou coisa do gênero. Diante de tal desprezo, decidi que não mais tocar no assunto de Johrei ou religião, comecei então a trabalhar mais ainda e optei por me afastar da família com quem viera ao Brasil. Morava com famílias que estivessem precisando de mão-de-obra, roçava os quintais das casas, plantava e fazia batata-doce assada.

Diante disso, pensei “se minha mãe vier, certamente ficará doente com tanto desconforto, as delicadas mãos dos irmãos e irmãs que cresceram com os livros, não aguentariam as enxadas, se vierem para cá, minha família será arruinada.

Assim, escrevi aos meus pais pedindo que “desistam de vir para o Brasil pois passo por muitas dificuldades aqui”. Alguns meses depois, após minha carta ter chego sã e salva no Japão, recebi uma carta com a resposta de minha mãe, isso soava como um milagre para a realidade que eu tinha.

Apressadamente rasguei o envelope, e fiquei tomada por emoção, era muito bom saber que meus pais não haviam se esquecido de mim aqui, a carta trazia a triste notícia da ascensão de Meishu Sama ao Mundo Espiritual. Agora sentia que ele olhava por mim, chorei muito em luto, demorou muito para que a tristeza passasse.

A virada do destino

Certo dia, em meio ao meu trabalho na lavoura, o senhor Naito disse-me que precisava de pessoas para trabalharem consigo. Assim, novamente de barco, parti para Monte Real no distrito de Itacoatiara, próximo a Parintins, AM, levando comigo a imagem de Deus e alguns Ohikari, ele falava que alguém queria me contratar.

Fiz uma outra viagem de barco, carregando roupas imperiais paro o Sr. Naito  e chaguei a uma mereceria, administrada por Misuno-san.

 Trabalhava durante dia e durante a noite tentava estudar português, sob a precária luz de um lampião. Inicialmente, tive muitas dificuldades com os  costumes, língua e alimentação em comparação com a vida no Japão. No entanto, aquele lugar era para mim o paraíso na terra, em relação à vida que levava na colônia anterior, em Bela Vista, tudo tinha mudado para melhor.

A maravilhosa esposa do Sr. Shigaru me tratava como uma filha. Aprendi o serviço e, em meio a um novo ambiente, novamente me empenhei em difundir o Johrei, e para meu deleite, minhas histórias começaram a ser ouvidas.

Dessa vez eu havia mudado de idéia, agora eu podia falar sobre o Johrei, me esforçava para explicar, embora muitas vezes as pessoas coçavam a cabeça sem terem entendido muito bem, mas mesmo assim, pouco a pouco, mais purificadas, as pessoas compendiam melhor a proposta de tudo aquilo.

Missão que veio do Japão

Algum tempo depois, mais noticias chegavam, recebia uma correspondência
de minha mãe que contava que o Sr. Yamane, após a ascensão de Meishu Sama, um ministro chamado Nobuhiko Shoda pedia para que eu fosse a Curitiba com ele para fazer difusão no Brasil...

Traduzido por Luiz Pagano
-------


 Como deve saber o caro leitor, me considero um Omni Religioso, acredito, estudo e respeito todas as religiões e dou valor no bem que elas causam. Eu já havia estado em Uberaba e conheci pessoalmente o Eurípedes, era um dia 08 de dezembro de 2011, tomei um café e comi pão de queijo com ele, que gentilmente me mostrou todos os aposentos, contou estórias de Chico, me mostrou a arvore que ele (Chico Xavier) havia plantado no quintal, bem como todo complexo que ele havia construído para ajudar o maior numero de pessoas possível, com ele e mais um grupo de dez pessoas, fui ajudar a cozinhar e servir as mais de mil pessoas carentes no refeitório. Eu acredito de fato que a melhor forma de criarmos uma sociedade evoluída em todos os sentidos é nos mobilizando proativamente nisso, devemos começar por copiar os exemplos de pessoas como Mokiti Okada, Teruko Sato e Chico Xavier - para promovermos a melhoria moral das pessoas ao nosso redor e ao mesmo tempo, muito alem de darmos as condições de dignidade, promovermos o desenvolvimento fisico e estrutural do grupo, considerando cada integrante como um elo importante, confiável e talentoso, em uma sociedade que dá prazer trabalhar pelo bem comum e de cada indivíduo, isoladamente.

 Com isso, aproveitei o dia de jogo da copa, quando pessoas estão muito felizes com a vitória e uma vibração espiritual grande e plural, do tamanho de nosso país e resolvi refazer o desenho da Teruko Sato (ilustração abaixo)... a minha Teruko Sato – mulher japonesa que adotou a cultura dos indígenas em suas pinturas e roupas. No meu universo pessoal a tal cultura evoluída, Nipo-Tupiniquim tem até nome, ochama-se yvyturokai (pronuncia-se algo como "UVUTUROKAI" - os dois primeiros 'Us' tem um som parecido com o do ~ da palavra 'SÃO' - e significa PARAÍSO em Guarani –, lugar onde as pessoas estão bem formadas e são bem educadas).

No meu desenho, a Teruko Sato (佐藤輝子) de meu universo pessoal, dança suavemente sobre o tronco cortado, tal como desenhei em minha infância, em harmonia com as forças da floresta, tem um boto-cor-de-rosa a sua esquerda e um tucuxi à direita - parece até uma personagem do anime Avatar.

Os Caraíbas e a religião Tupi

Caraíba praticando ritual de cura numa mulher Tupinambá por meio de impostação de mãos

Para a igreja católica da época do descobrimento do Brasil, a descoberta de seres humanos na America representava um sério problema, não se admitia ninguém vivendo fora de suas graças, por esse motivo os padres Vieira e Manoel da Nobrega se apropriaram indevidamente do mito de Sumé para inserir a igreja católica na vida dos índios, segundo eles, foi o apostolo São Tome quem levou a doutrina Cristã aos índios da antiguidade.

Fato é que mesmo acreditando que eles não tivessem um conjunto de crenças, a grande nação Tupi-Guarani que ocupava vasta extensão do território Brasileiro, Paraguai, Argentina e Bolívia acreditava em homens santos, capazes de promoverem a cura e guiarem as almas dos bons ao Paraíso na Terra.

O professor Eduardo de Almeida Navarro assim descreve a religião Tupi-Guarani:

“A descoberta da América conduziria, inexoravelmente, à necessidade de um enquadramento das novas realidades geográficas, culturais e sociais recém conhecidas nos esquemas europeus de compreensão do homem e do mundo e isso para impedir a relativização da Revelação bíblica e salvaguardar a idéia da unidade do gênero humano aceita desde a Antiguidade. Desse modo, a religião e os mitos indígenas foram interpretados segundo os conceitos vigentes no universo mental europeu do século XVI. O mito de Sumé foi assimilado à pregação do apostolo São Tomé na América, o mito do dilúvio foi compreendido como reminiscência da narrativa do Gênesis.  A verdadeira religião tupi-guarani, que tem como essência a crença na Terra sem Mal, passou despercebida, então. Religião sem Teologia, concebia o paraíso como a superação da morte e da ordem social e política. Paraíso de homens-deuses, que teria uma realização histórica e uma localização geográfica.

A busca da Terra sem Mal levou a grandes migrações de índios pela América do Sul e a idéia da imortalidade, nela contida, foi assimilada ao conceito de "Vida Eterna" do Cristianismo, o que favoreceu, em grande medida, o bom sucesso do Estado Jesuítico do Paraguai”. O Sumé é o responsável pela civilização das tribos tupi, descrito como “grande feiticeiro, branco, barbado, que veio pelo mar”, Sumé e mencionado como Mairatá, entre os Tapi do Maranhão e Maré - o civilizador mítico dos aimoré, que era descrito como um homem branco e de cabelos vermelhos. Era branco e loiro também entre os Izi do extemo norte, enquanto os Apinagés se referem em seus mitos a um grupo chamado “kupe-ki-kambleg”, que significa literalmente “tribo estrangeira de cabelos vermelhos”.

Contavam os índios que o Sumé tinha ensinado a seus antepassados o plantio e a domesticação da mandioca e a moquear o peixe, num tempo em que todos se alimentavam apenas de elementos rústicos, pobres em nutrientes e gosto. Mas a ação do Sumé não se limitou ao ensino de técnicas agrícolas e de cozinha, a ele foram atribuídas também a abertura de caminhos e a introdução de novos princípios religiosos.

No sul, conta-se que Sumé foi para o Paraguai (onde tinha ensinado o uso da erva-mate), seguindo dali para o Peru. Durante esta caminhada teria aberto a estrada que ficou conhecida entre nossos indígenas como Peabiru ou Piabuyu, ou seja, o Caminho da Montanha do Sol.

Caraíbas – Os ministros de Sumé

Caraíbas ("Kara ' ib" (sábio, inteligente – karaibas) eram homens santos, nômades, que transitavam em meio a todo território de língua Tupi, tinham salvo-conduto entre todas tribos, mesmo aquelas em guerra e conheciam bem todas as etnias indígenas e suas línguas.  A figura do Caraíba pode ser muito bem entendida através do relato de Jean de Léry, que diz ter presenciado um ritual com cânticos e danças, no qual os caraíbas falavam de mortos e dos ancestrais, e da certeza de encontrá-los “por detrás das montanhas” para dançar e festejar com ele; ralavam também de um dilúvio, muito similar ao evento bíblico e que o próximo cataclismo global estaria em vias de acontecer.

O Padre Manoel da Nobrega também teve contatos com caraíbas e relata:

“Chegando o feiticeiro (isto é o caraíba), com muita festa, ... entra numa casa escura e põe sua própria voz como a de um menino, ... lhes diz que não cuidem de trabalhar, nem vão a roça, que o mantimento por si só crescerá e que nunca lhes faltará de comer e que a caça por si só virá à casa e que a flechas irão ao mato caçar para seu senhor e hão de matar muitos dos seus contrários e cativarão muitos para os seus comeres. E promete-lhes longa vida e que as velhas hão de se tornar moças e que dêem as filhas a quem quiserem e outras coisas semelhantes lhes diz e promete”.

Yby Marãne’yma - O Paraíso na Terra

Diferentemente dos paraíso da tradição Judaico Cristã, não é necessário morrer para chegar no paraíso dos Tupis-Guaranis. O Yby Marãne’yma , lugar para onde vão os espíritos mais virtuosos, tem forma física na terra, com acesso aos vivos.

A idéia de paraíso terrestre das etnias do novo mundo, apresenta uma versão mais pragmática do sentido religioso de paraíso, comparada às religiões da Europa. Eles acreditavam que o paraíso está aqui mesmo e para alcançá-lo nos só precisávamos superar nossas próprias angaipabas (maldades / pecados).

Uma análise profunda nos textos sobre o Peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) descrito pela primeira vez pelo padre jesuíta Pedro Lozano em sua obra "História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán de 1873~5", revela que este não era um caminho físico, o Peabiru é o mapa de reforma das atitudes individuais para se viver num paraíso terrestre, baseada em vários objetivos de mudanças de hábitos.

1- Cura das doenças – Os caraíbas eram grandes apreciadores e conhecedores da mata, e acreditavam que para todos os males existiam os “anti-males”, as doenças não passavam de desequilíbrios naturais desenhados para aprimoramento do indivíduo, e sua cura era obtida através da própria natureza.

Muitos relatos dizem que quando iniciavam o ritual de cura, os caraíbas modificavam suas vozes, ficavam tenras e suaves como a de crianças – Para os caraíbas, as crianças são puras, conversam diretamente com as forças da natureza, com grande liderança, sem medo, livres de atitudes negativas - quando falamos com nossos entes queridos, animais e mesmo crianças que amamos, afinamos nossas vozes, usamos o ‘tatibitati’ para demonstramos amor e afeto.

Os unguentos e tinturas não só tinham a função de medicina tópica a ser absorvida pela pele, eram espalhados pelo corpo de forma artística, para encantar a alma dos vivos, dos ancestrais e os demais espíritos - a beleza é a mais efetiva forma de cura a nosso dispor.

2- Abundancia de Ka’a – se aprendermos a enxergar ao nosso redor,  viveremos em abundancia, as matas são fartas de riquezas inesgotáveis e cambiantes, estão sempre mudando, uma miríade de alimentos e água “y” o som mais belo,

Sumé nos ensinou o básico, mas temos que descobrir mais e mais sobre tudo ao nosso redor, e a melhor forma de fazer isso é através da beleza das plantas, das flores, das pedras e dos animais. Essa beleza nos gera a curiosidade.

A natureza é livre de conflitos, como visto no texto de Nobrega, os caraíbas queriam reduzir os conflitos e brigas, enxergavam a beleza na harmonia e no crescimento de mínimo esforço:

“Na natureza não existe o conflito, as plantas não se esforçam para crescer – elas só crescem;
 As aves não se esforçam para voarem, elas só voam;

3- Todos somos caraíbas – Sumé nos ensinou que todos nós temos a curiosidade para aprender e o poder para nos tornarmos sábios, todos nós temos o poder de cura e a capacidade de adentrar ao Yby Marãne’yma, dançarmos com nossos queridos e retornarmos para casa no final do dia, tudo que temos a fazer é seguir nosso Peabiru.

Fato é que, o mito de Sumé talvez seja nossa mais antiga religião nacional, descreve a alma do Brasileiro, e explica muito de nossa essência.

Inspirado por nossa filosofia e história Tupi, criei em 2013 a HQ de Mingo, um menino que por sua pureza e leveza de espírito, visita seu o Yby Marãne’yma aqui em São Paulo - - aqui apresento as páginas do capitulo de introdução – divirtam-se!


Mingo é um menino de rua que tem um só objetivo, encontrar sua mãe. Acompanhe Mingo em suas aventuras contra os mais perigosos vilões com a ajuda dos mais inusitados personagens do cotidiano Brasileiro.


Códigos de Guerra dos Tupis


O captor dava a ordem ao prisioneiro: -“Enhe'eng tembi'u”  



Graças aos livros de Lerry Thevet e Hans Stadens, sabemos como era a sociedade dos Tupis (Tupinambás, Tupiniquins, etc. ). Esses relatos começam com a aventura de Hans Staden, no ano 1553, que ao realizar uma caçada sozinho em Bertioga, foi capturado por indígenas que o trataram com muita violência - Staden logo percebeu que a intenção dos indígenas era a de devorá-lo em um sofisticado banquete, servido com o mais fino Cauim.

Apos passar por vários momentos de terror, Staden sobreviveu ao contato com os canibais, voltou a Europa, quando escreveu sobre essas verdadeiras desventuras quase inacreditáveis no ano de 1556, fazendo do Brasil e seu provo um dos lugares mais incríveis e assustadores do mundo de sua época.

A veracidade dos relatos de Staden são autenticados no ano seguinte no livro do francês André Thevet, de religião católica e posteriormente pelo calvinista Jean de Léry. Thevet teve sua experiência obtida ao fazer parte do grupo denominado França Antártica no Brasil, que após passar dez semanas vivendo na Baía da Guanabara, regressou à França por estar doente. No ano seguinte, publicou a obra intitulada ‘As singularidades da França Antártica (1557)’: uma fonte relevante por ser uma das primeiras obras a fazer menção ao Brasil em pleno descobrimento, no entanto, escrito com ênfase no fantástico ao transparecer a presença do imaginário medieval.

Já Jean de Léry que veio para o Brasil em 1558, juntamente com um grupo de quatorze pastores calvinistas, e cinco donzelas para habitar a França Antártica fez um realto bem mais acurado. No decorrer de sua estadia os conflitos ideológicos entre católicos e protestantes, fez que ele tivesse uma visão muito mais critica ao trabalho de Thevet, que após dezenove anos do seu retorno, publicou seu diário denominado ‘Viagem à terra do Brasil (1577)’, uma obra muito mais elaborada que tinha o declarado intuito de desmentir equívocos e mentiras contidas no livro de Thevet.

Essas três importantes obras ilustradas que renasceram na decada de 1920 Totem e tabu, de Freud, o manifesto Cannibale, de Francis Picábia, lançado em 1920, e o livro L’Anthropophagie rituelle des Tupinambás, de Alfred Métraux, que inspiraram os modernistas de 1922, Tarsila, Oswald e Mario de Andrade, fizeram que nós conhecêssemos a cultura, idioma e hábitos dos povos Tupis com rigor científico em estado de arte.

Banquetes que demandavam por refinada etiqueta, como as européias e éticas de guerra, com rituais semelhantes aos dos Samurais japoneses

O Brasil daquela época era ocupado por tribos irmãs e beligerantes, a guerra era uma atividade constante, Potiguares eram inimigos de Tabajaras, que por sua vez eram inimigos de Caetés, rivais dos Tupinambás, os quais, guerreavam constantemente contra os Tupiniquins. Essas guerras eram regidas por códigos atentamente observados e seguidos a risca por todos esses ‘primos’, falantes de variações do mesmo idioma, o Tupi Antigo.

O ato da guerra era sagrado e tinha como o momento culminante do embate, o apogeu ritualístico definitivo e verdadeira consagração da vitoria, a Antropofagia. Os ARAPURUS (comedores de gente) tinham rituais muito bem coreografados e a dinâmica do ritual canibalístico era muito elaborada, existem relatos de outros atos canibilísticos ao redor do mundo, mas foi aqui, nos litorais brasileiros que essa pratica teve a sua aplicação mais requintada.

1 – A guerra

Enquanto os portugueses estavam preocupados com a exploração dos recursos da nova colônia, os povos indígenas estavam totalmente dedicados aos atos de guerra intertribais. No ano de 1565 os portugueses resolveram tomar uma posição mais forte e uma batalha foi travada entre portugueses, aliados ao Tupiniquins contra os franceses, aliados dos Tupinambás. Poucos anos mais tarde a maior parte dos franceses foi expulsa da região da Gauanbara, que tinha Villegagnon, um cavaleiro católico de Malta como líder, junto aos Tupinambás da resistência. Essa derrota só foi possível com a ajuda dos Tamoios, sob a liderança de Aimberê, dando origem assim ao Rio de Janeiro.

O executor perguntava: -“Ere-îuká-pe oré anama, oré iru abé?” (mataste nossos companheiros e nossos parentes, o prisioneiro então relatava seus feitos heróicos: - “Pá, Xe r-atã, a-iuká, opabe a-‘u. Xe anama xe r-eõ-nama resé xe r-epyk-y-ne. Xe anama e’i-katu pe îukabo” (Sim, eu sou forte, matei-os e comi-os todos, minha família, por minha morte vingar-me-á, minha família irá matar vos).Prisioneiro dos Tupinambas amarrado pela cintura com a MUÇURANA em ritual de sacrifício, O executor, vestindo um lindo manto de GUARÁ, empunha a IBIRAPEMA
Em meio a essa guerra toda, guerreiros de tribos inimigas eram capturados e ai então os Abá-Porus faziam a festa

2-O Prisioneiro de Guerra

No exato momento em que o inimigo era capturado, o guerreiro responsável pela captura virava seu dono, e passava a ter responsabilidade direta sobre seu cativo até o final de todo o processo, que culminaria com com sua canibalização. Os prisioneiros eram amarrados pelos pés e mãos, o que impossibilitava sua caminhada, para se locomoverem, eles tinham que dar ‘pulinhos’, situação que se ridicularizava bastante o capturado.

Aos pulos os prisioneiros eram conduzidos até a aldeia dos vencedores, ao passar pela entrada principal, eram recebidos com animosidade e ainda mais humilhação, os residentes jogavam restos de comida e pedriscos e se dava o seguinte dialogo:

O captor dava a ordem ao prisioneiro: -“Enhe'eng tembi'u” (Fale, comida); O prisioneiro então respondia: “Aîur-ne pe rembi'urama” (Estou chegando eu, sua comida);
As pessoas da tribo, jogando pedriscos e restos de comida no prisioneiro completavam: “Opererek îandé rembi'u oîkóbo” (Aí vem chegando nossa comida).

Nos próximos dias, o prisioneiro recebia o tratamento equivalente ao de um primo distante, era hospedado na oca do captor, era bem alimentado, a zombaria cessava 'em parte' e o anfitrião oferecia, alimento, rede e até mesmo sua filha ou sua esposa para que este se satisfizesse sexualmente. Nos primeiros dias, ele recebia também uma longa corda com nós para ser usada ao redor do corpo e pescoço, chamada de MUÇURANA. A Muçurana tinha uma quantidade de nós que representava o numero de ciclos lunares até sua execução. O prisioneiro jamais tentava fugir, pois isso seria a maior vergonha para ele e sua tribo. Na bizarra hipótese da fuga do prisioneiro, as pessoas de sua própria tribo não o aceitariam de volta e o conduziam vergonhosamente a aldeia dos captores para seu destino que já estava determinado pelo condigo de conduta da tradição oral mais antigo que se conhecia.

Os Tupis, tal qual os samurais prezavam a morte digna, o tumulo mais honroso para um guerreiro era o estomago de seu inimigo - Ter suas entranhas devoradas por vermes e insetos era repugnante e desprezível.

3- O Banquete

No dia anterior ao banquete, todos bebiam o Cauim, bebida fermentada de mandioca produzida exclusivamente pelas mulheres pelo processo de mastigação e cusparada (a amilase salivar transformava amido em açúcar, que por sua vez era fermentado por leveduras exógenas, criando assim uma bebida de graduação alcoólica não superior a 8,5%), e tinha inicio uma grande festa.
Capa de penas de guará e de papagaio. Pertencia à tribo de índios tupinambá. Após a chegada do europeu em 1500, grande parte destas preciosidades foram saqueadas. O destacado Manto Tupinambá, que já foi confundido com o manto de um imperador azteca e foi levado daqui pelo governador holandês de Pernambuco, no século 17. Hoje pertence ao Museu Nacional de Arte da Dinamarca.


Na manhã seguinte, o prisioneiro tomava um banho e depois era ornado com penas, casacas de ovos, e outros adereços, eram também feitas pinturas vermelhas de urucum e pretas de jenipapo. Uma pantomima sempre acontecia nesses rituais - permitia-se que o prisioneiro fugisse até a entrada da aldeia quando era recapturado, numa encenação ritualística, e voltava amarrado com a Muçurana pela cintura, trazido por dois guerreiros, um de cada lado da corda e trazido para frente do executor enquanto a tribo toda gritava e se alvoroçava, aumentando assim o clima da festividade ao seu êxtase.

O Executor que também havia se banhado e submetido a uma pajelança com ervas e unguentos, após a longa cauinagem da madrugada, trajava-se de forma ritualística, com plumas pinturas e um maravilhoso MANTO GUARÁ vermelho feito com pele de lobo-guará, ornado com plumas de arara e tucano. Um dos momentos mais acalorados da festa era quando o executor se colocava na frente do prisioneiro, o absoluto silencio se fazia e acontecia outro dialogo:

O executor perguntava: -“Ere-îuká-pe oré anama, oré iru abé?” (mataste nossos companheiros e nossos parentes?)
O prisioneiro então relatava seus feitos heróicos: - “Pá, Xe r-atã, a-iuká, opabe a-‘u. Xe anama xe r-eõ-nama resé xe r-epyk-y-ne. Xe anama e’i-katu pe îukabo” (Sim, eu sou forte, matei-os e comi-os todos, minha família, por minha morte vingar-me-á, minha família irá matar vos).

Após o dialogo, o executor empunhava uma pesada arma, assemelhada a uma enorme maça, com um peso na ponta, ornada com plumas, que previamente fora preparada com orações e libações, chamada ‘IBIRAPEMA’, a manejava com destreza em movimentos marciais coreografados, encaminhava-se para traz do prisioneiro e acertava a base do crânio com muita força.

A morte era rápida, o crânio era despedaçado em sua base.

As mulheres mais velhas rapidamente colocavam um embolo em seu anus para evitar que os fluidos saíssem, recolhiam seus miolos e demais fragmentos espalhados pelo chão e tentavam recolher a maior parte possível de sangue. O corpo permanecia de pé, amparado pelas Muçuranas, fazendo com que seu sangue não fosse espalhado pelo chão, havia uma propósito muito nobre para todo esse sangue.
Os ABAPURUS banqueteavam por 4 horas, o ritual canibal acabava e os habitantes da tribo se recolhiam nos seus aposentos para dormirem

O sangue colocado em vasos de barro cozido e era bebido ainda quente por todos, as mulheres passavam em seus seios e davam o peito aos bebês, seu corpo era colocado com muito respeito dentro de um caldeirão já com água fervente, para facilitar a retirada da pele, ai então o corpo era desmembrado, cortado pelo dorso e levado para a defumação (moqueágem). Após alguns minutos o corpo era virado, abria-se o ventre e os miúdos eram misturados a farinha e o mingau era dado para as crianças, só os grandes guerreiros podiam comer um mingau preparado com a pele ao redor do crânio, e os órgãos sexuais eram devorados pelas mulheres. A língua e os miolos eram comidos por pré-adolescentes de 12 a 16 anos de idade.

Logo apos a execução, o executor era arranhado pelo líder tribal com dente de onça, de forma que a escarificação já cicatrizada servia-lhe como honraria – Quanto mais escarificado, melhor guerreiro era. Todo esse ritual era acompanhado de musica de flauta feita com os ossos dos prisioneiros abatidos anteriormente.

Ao final de 4 horas, o ritual acabava e os habitantes da tribo se recolhiam aos aposentos para dormir, a final de contas, ficaram acordados a noite toda para o grande evento.

terça-feira, 23 de junho de 2020

A Lenda do Pirarucú

A Lenda do Pirarucu

Texto em Tupi Antigo pelo professor Emerson Costa

A lenda do Pirarucu é uma perfeita fábula que espelha o mal que assola a humanidade nos dias de hoje. Regida pelo egoísmo e a infelicidade, nossa sociedade mundial é acometida de depressão, a falta de integração entre a sociedades contemporâneas é fruto de nossa incapacidade de compreender uma das regras básicas da natureza, a Lei do Equilíbrio Natural - todos nós estamos cometendo os mesmos erros que o jovem caçador Pirarucu cometeu.

Respeito à comunidade - a Lei do Equilíbrio Natural 

Para entender essa lenda, é importante compreender bem esse conceito básico presente nas aldeias indígenas das americas:

- Na natureza existe um circuito fechado e uniforme de vida e alimentos no qual todos os seres consomem exatamente o que precisam, sem grandes excessos e faltas, a onça poderia caçar quantos animais quisesse, no entanto, ela só caça o veado ou a capivara que vai comer e dar como alimento aos seus, as árvores recebem exatamente o nutriente que precisa por meio de suas raises, respiração das folhas,  e pelas trocas que acontecem nas redes miceliais, qua fazem o papel de equalizadores subterrâneos nas florestas. 

A regra geral diz que não existe excedentes na natureza, cada vez que um desequilíbrio é criado, uma punição igual e proporcional acontece como contrapartida. Um bom exemplo disso é quando existe um acumulo anormal de células desnecessária no corpo humano - o chamado câncer.  

Nas aldeias indígenas os integrantes praticam proativamente esse equilíbrio, todos os dias os caçadores saem pela manhã para caçar e só voltam no final da tarde, ao final da semana geralmente caçam um ou dois animais grandes,  que são distribuídos de forma igual para todos, junto com as colheitas feitas pelas mulheres que também cozinham - Nas refeições tudo é compartilhado igualitariamente, os idosos, os fracos e as crianças tem tanto acesso aos nutrientes como qualquer outro, criando uniformidade e equilíbrio.

Dentre todos os seres do planeta, com o advento da revolução agricultural, o homem civilizado passou a quebrar essa regra copiosamente - ao produzir mais do que precisa, acabou criando excedentes. Conhecida como a 'equivocada riqueza', os excessos produzidos pela agricultura apareceu como fonte de felicidades mas também de tristezas - todo esse excesso tirou-lhe a agilidade de ir e vir, o acumulador passou a precisar de um lugar para guardar e protejer todo esse superavit contra ladrões, por exemplo.

A troca e o comércio aparecem aqui como uma força de equilíbrio, más a nossa sociedade ainda é desigual, existe grande escassez por um lado e muitos excessos por outro - para os indígenas isso é fonte inequívoca de sofrimento.

De forma geral, o indígena americano considera o acumulo de bens e recursos, e o consequente egoísmo como uma doença mental grave. 

A Lenda do Pirarucu e a lição que nos traz

Pirarucu era uma lindo e talentoso caçador, caçava mais e melhor do que qualquer outro.


Por ser belo e talentoso via todos os demais com desdém, zombava dos outros integrantes da aldeia, dos velhos e das crianças, achava injusto que sua caça fosse dividida com gente fraca e feia. É aí que surge a lenda, escrita aqui em Tupi Antigo:

I ypyrungápe, kunumĩgûasumemûã Piraruku i py'aangaîpabeté. O anama tiruã oîuká, a'e o epîamirĩ resé, konipó oîoupé marã i nhe'ẽmirĩ resé o nhemoŷrõneme.

Tuba morubixaba oîkotebẽ o a'yra resé, sesé o esa'yetáramo oîasegûabo.

Aroane'ym tekó potare'yma, Tupã Polo ybytu îara, Tupã Îururagûasu ybytuaíba îara abé, i mondyîpotari Tukãtï rembe'ype i ka'amondóreme bé, ybytuaibabaeté monhanga.

Piraruku opukaatã, Tupã îaîa, takypûerygûan o memûãnamo.

I tekokuabe'ymusu resé onhemoŷrõmo, Tupã Piraruku rerasóû 'yypype, akûeîpe piragûasuramo i monhanga. A'e riré bé Piraruku 'ekatue'ymi opukábo bé. Sa'angeme, 'y i îase'opytymi; a'ereme sekótebẽû obú, o putu'ẽma resé.

O porangamo i 'ytabi. O emiugûymombukûera îabi'õ i pé-i péû.

——
I ypyrungápe, kunumĩgûasumemûã Piraruku / O jovem zombeteiro Pirarucu

O jovem zombeteiro Pirarucu a princípio tinha muita maldade no coração, gente da sua própria tribo era por ele assassinada, tudo que bastava era um olhar ou uma fala errada.

Seu pai o grande líder morubixaba sofria com seu filho que por ele, muitas lágrimas chorava.

Mas a natureza preza pelo equilíbrio e os Deuses Polo dos ventos e Iururaruaçu, Deusa das tempestades para ele armaram, tentaram assusta-lo durante a caça, às margens do Tocantins, provocaram uma terrível tormenta.

 Piraruku riu dos deuses com ironia em sua última zombeta.

Cansados de tanta insensatez os deuses conduziram Piraruku para o fundo do rio e lá o transformaram num grande peixe, até hoje Piraruku não consegue mais rir, ao tentar, se engasga com a água e precisa tomar ar na superfície dos rios.

E formoso ao nadar, carrega em suas escamas cada uma das almas que fez sangrar.

os Deuses Polo dos ventos e Iururaruaçu, Deusa das tempestades removem punir o jovem Piraruku

Aqui vemos o castigo que teve por ser egoísta, zombeteiro e fraco.

Cauim Sugestão de Processos de Introdução e Aculturação para uma Bebida Milenar Brasileira

Fonte alegoria o mascar mandioca para quebrar o amido em açúcares - Tupi antigo Aîpi o- su'u su'u I nomu - Luiz Pagano Tupi Pop Este...